Bianchi Ocelot MTB Fixa (pinhão Surly Dingle 21x17 e a altura do mov.central é 29cm)

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Como Montar uma Bike Singlespeed de Baixo Custo



Montar uma singlespeed de baixo custo é mais simples e mais barato que montar uma bike fixa básica. Isso se deve ao fato que são muito poucos os componentes de singlespeed que precisam ser comprados.

Enfatizo que esta conversão sugerida neste artigo é para uma bike de uso urbano normal (por ex.: deslocamento, lazer, condicionamento físico etc.). Para outros casos, tais como: freeride, street jump, manobras radicais etc. você deverá buscar na web instruções específicas sobre como proceder, pois fogem do escopo do blog.

Lembrando que no Brasil a grande maioria das bicicletas são singlespeed, pois existem milhões de Barras Forte (Caloi) e Barras Circular (Monark) rodando Brasil afora. Elas aliam robustez (e peso) com preço baixo.

Ressalte-se que qualquer bike pode ser convertida em uma singlespeed, pois nos casos de gancheira vertical basta colocar um esticador de corrente ou um cambio traseiro para tensioná-la. Entretanto aqueles que preferem uma bike com uma estética mais limpa (“clean”) precisam usar um quadro com gancheira horizontal. Caso contrario, será necessário utilizar um esticador de corrente ou fazer um “magic gear”. Isso é discutido no post: Bike Fixa com Quadro de Gancheira Vertical: Quatro Opções para Tensionar a Corrente , apesar do titulo, também se aplica às bikes singlespeed.

Bike Singlespeed




A maneira mais simples e barata para montar uma singlespeed é partir de uma bike pronta, já montada. Entretanto isso não impede de você montar uma do zero e esse processo é discutido no post: Como Montar Uma Bicicleta Fixa do Zero” , que serve como guia, mas no caso de singlespeed, existem as seguintes diferenças – que tornam mais barato e menos complicado o processo de montagem: as alternativas de cubos são maiores (vide tópico abaixo) e mais baratas; não é necessário usar firma-pé ou pedal clipless; pode ser usado um pedivela de ponta quadrada comum (170mm , 172.5mm ou 175mm) que ficará bom;  usa-se uma corrente fina ou grossa que seja compatível com a coroa e a catraca. Outro aspecto é que não é necessário trocar o eixo vasado para blocagem por um sólido, dá para usar sem problemas a blocagem.

A seguir vamos comentar sobre os diversos tipos de cubos traseiros que são utilizados nas bikes tendo em vista o seu uso /conversão para singlespeed. Abaixo na tabela está um resumo das possibilidades.



Gancheira Horizontal de Bike Speed



1) Cubo de Rosca: A grande maioria das bikes com marcha de preço médio atualmente usa uma catraca de sete (7) velocidades, mas as recomendações valem para qualquer cubo com catraca, seja de 3, 4, 5 ou 6 velocidades. Existe também a alternativa de comprar um cubo de rosca e montar uma roda barata com um cubo Shun-Feng de aço – como foi descrito no post: Será Que Vou Gostar de Pedalar uma Fixa ??? Faça um Teste” , porém com uma enorme diferença, pois será usada uma roda-livre de uma velocidade em vez do pinhão fixo soldado. Ressalte-se que a Shun-Feng fabrica também um cubo de rosca feito em alumínio e com rolamentos e eles são baratos – cerca de R$ 40,00 (o par).

Neste caso existem DUAS opções:



A) Re-Espaçar o cubo. Ou seja, eliminar o “chapéu chinês”, transferindo espaçadores (parte deles - vide B na figura abaixo) do lado direito para o lado esquerdo do cubo. Isso deixará a roda com raios simétricos e o centro do cubo ficará equidistante das contra-porcas do eixo. Em alguns casos, pode ser necessário trocar os raios do lado direito por uns mais longos.  Será necessário também adquirir uma catraca (roda-livre) com uma velocidade. NOTA: Re-espaçar um cubo traseiro com rolamentos nunca fica perfeito, por causa do eixo que tem “encosto fixo” para os rolamentos; ou seja, a linha da corrente não vai ficar perfeita , e isso causa mais fricção / desgaste dos componentes da transmissão, mas dá para usar dado que a roda livre simples e a corrente singlespeed para cargueira custam cerca de R$ 7 a 10,00 , ou seja, a troca frequente não é muito custosa. O que dá para fazer para melhorar a linha da corrente é colocar a coroa pelo lado de dentro do pedivela (mais próxima do quadro ) e colocar uns espaçadores nessa coroa , que a deixará mais próxima ainda do quadro.


Esquema do Re-Espaçamento do Cubo Traseiro


B) Deixar o cubo traseiro como está. Neste caso basta reposicionar a corrente em um dos pinhões da catraca (roda-livre) que proporcione uma boa linha de corrente. Ressalte-se que o inconveniente dessa alternativa é que não poderemos ajustar a relação coroa x pinhão/engrenagem, pelo lado do pinhão.

Essa solução é muito utilizada por ciclistas no interior e nos bairros que compraram bicicletas de marchas mais simples, em geral MTBs, e que ocorreu uma quebra ou falha no funcionamento do trocador de marcha ou o cambio quebrou ou foi muito danificado e o dono preferiu não gastar dinheiro com a manutenção, então a solução singlespeed prevaleceu.


Cubo Campagnolo Record p/ Roda-Livre



2) Cubo K-7 (freehub): Esse é o atual padrão das bikes mais elaboradas – sejam elas de speed, MTB ou hibridas. Nesta situação a melhor alternativa é adicionar espaçadores de alumínio ou re-aproveitar espaçadores dos cassetes descartados para ocupar o espaço dos pinhões que foram eliminados. Já existem Kits de espaçadores para singlespeed à venda, a maioria para Shimano ou SRAM, pois no caso de cubo da Campagnolo será necessário limar algumas ranhuras de encaixe, porém a Wheels Manafacturing oferece um kit pronto para Campagnolo. O pinhão remanescente será posicionado de modo que a linha da corrente fique perfeita. Alguém pode pensar: Por que não deixar como está o K-7, como foi sugerido para os cubos de rosca? Na catraca para marchas (5, 6 ou 7 velocidades) você não consegue eliminar as engrenagens desnecessárias, mas no K-7 isso é possível. Mantendo o K-7  dá para manter também o movimento central e o pedivela.

Cubo Campagnolo Record 9V - Singlespeed

Kit Singlespeed para Cubo K-7 (da Wheels Manufacturing)


3) Cubo Flip/Flop:  Esse é também uma opção, porém foge um pouco do nosso objetivo que é manter os custos baixos. O cubo flip/flop é um cubo para bike fixa que permite colocar de um lado um pinhão fixo e do outro uma roda-livre (catraca) de uma velocidade. Os mais baratos são os Shun-Feng traseiro que custam cerca de R$ 49,00. Por outro lado, os cubos flip/flop (o par: diant.+ trás.) da Fórmula chegam a custar até R$ 250,00 .

Cubo de Fixa Flip / Flop ( Roda-Livre e Pinhão Fixo)



4) Cubo Contra-Pedal: Esse cubo é especifico para singlespeed e ele tem freio contra-pedal. É amplamente utilizado, seja em bikes cargueiras como bikes para lazer. O inconveniente é o peso deles, mas por outro lado você economiza o peso das pinças de freio e dos manetes de freio.

      Eles são fabricados pela Shimano, SRAM, Velosteel (Tcheca) Sturmey Archer etc. No exterior são conhecidos como “coaster brake hub”. O modelo Shimano CB-E110 equipa a Dahon modelo Mu Uno e o modelo Eco One.

     O modelo da Shimano CB-E110 custa ao redor de R$ 65,00 e o da Velosteel R$ 55,00 (pesquisa na web).  Ressalte-se que com a alta do dólar os preços são mais altos (Out/2015). 

Cubo Contra-Pedal Shimano CB-E110



Além do cubo traseiro, existem outros  componentes que precisam ser adequados para uma singlespeed: pedivela/coroa, o movimento central e a corrente etc.

Nos casos do cubo ter sido re-espaçado ou ter sido trocado por um cubo flip/flop  ou de contra-pedal será necessário adequar a posição do pedivela/coroa de modo a resultar em uma boa linha de corrente. Existem duas alternativas para ajustar isso: 1) Colocar a única coroa no lado interno do pedivela e às vezes colocar espaçadores nos parafusos da coroa para aproximá-la mais do quadro; 2) Trocar o movimento central por um com eixo mais curto, assim o pedivela/coroa ficam mais próximos do quadro o que resulta em uma melhor linha da corrente. Isso fatalmente vai ocorrer no caso de MTBs  cujo cubo K-7 foi trocado por um flip/flop ou cubo de rosca , que possuem uma linha da corrente ao redor de 42-45mm (exceto se você utilizar um cubo singlespeed especifico para MTB – que possuem uma linha da corrente de 52mm, como o cubo da Paul Components etc.), e dado que MTBs utilizam pedivela triplo consequentemente usam um movimento central com 118mm a 127mm (Obs.: Isso é muito comum na Shimano) – com isso o pedivela/coroa ficará distante do quadro, por outro lado um movimento central com eixo curto poderá fazer com que  o pedivela/coroa rocem no “chainstay” do quadro.

No caso da MTB, a melhor relação Custo X Diversão é usar o K-7 para fazer uma singlespeed - basta uma engrenagem e mais espaçadores, pois tem mais possibilidades de posicionar corretamente a engrenagem (pinhão) para ter uma boa linha da corrente e não será necessário trocar o movimento central e o pedivela. Uma bike speed / MTB com pedivela triplo poderá utilizar movimentos centrais com eixo de 115 mm até 127 mm, a exceção são os pedivelas triplos Campagnolo Record e Chorus que usam movimento central com 111mm, enquanto que uma singlespeed ou fixa utiliza entre 102mm e 111mm quando usa cubo flip/flop ou cubo de rosca re-espaçado.

É importante observar que os pedivelas que não usam movimento central com ponta quadrada são mais difíceis de manipular a distancia dele em relação ao quadro. Pedivelas que utilizam movimento central com ponta quadrada são mais versáteis para obter uma boa linha de corrente. Entretanto usando um cubo K-7, essa falta de flexibilidade dos pedivelas modernos (Ultra-Torque, Octalink II etc.) com eixo integrado pode ser amenizada.

No caso de pedivela de speed, é melhor eliminar a coroa maior, (que em geral tem 53 ou 52 dentes), para evitar a relação ficar muito pesada, exceto nos casos em que o ciclista planeje colocar uma catraca com 20 a 22 dentes.

Como as bikes speed/MTB ou hibridas usam correntes finas 3/32” é melhor comprar uma catraca com dentes finos (3/32’), assim pode-se re-aproveitar a corrente para marchas (fina).

Serão retirados da bike os seguintes componentes desnecessários: alavancas de câmbio (no quadro ou na mesa/avanço); os câmbios traseiro e dianteiro. Caso você use STI ou Ergopower poderá substitui-los por manetes de freio tradicionais. No caso de MTBs que utilizam manetes Rapid Fire e similares que vem com o trocador e o manete de freio integrados, é melhor substituir por manetes de freio para BMX, ou aqueles manetes para cantilever ou V-Brake antigos. ATENÇAO: Caso voce opte por um cubo de contra-pedal, então ferraduras de freios e seus manetes serão desnecessários.



O Que Voce Poderá Precisar Comprar

Nota: Além de comprar um cubo de single speed (rosca ou contra-pedal) se necessáriovocê poderá necessitar comprar os itens abaixo, mas isso depende da configuração escolhida. 

1) Esticador de Corrente.  Isso no caso do quadro ter gancheira vertical. Existem vários tipos de modelos de esticadores de corrente. Entretanto, você pode fazer um esticador à partir de um cambio traseiro antigo. A transformação do cambio traseiro em esticador de corrente é bem simples – use um cabo usado, pois você vai precisar de uns 25cm de cabo: 1) Passe um cabo de câmbio na regulagem de tensão do câmbio (“cable adjustment barrel”) – vide foto e travá-lo (a ”cabeça” do cabo prende na entrada); 2) Passe o resto do cabo no parafuso (“cable anchor bolt”) que prende o cabo no câmbio e manualmente puxe o cabo  de modo que o braço do cambio traseiro fique exatamente debaixo da engrenagem/pinhão; 3) Aperte o parafuso que prende o cabo (“cable anchor bolt”) com isso o braço fica posicionado no lugar desejado ; 4) Corte o excesso de cabo.

Nomenclatura das Partes do Câmbio Traseiro




Tensionador / Esticador de Corrente



2) Half-Link. No caso de você optar por fazer um “magic gear” para tensionar a corrente em um quadro com gancheira vertical – deixar o visual da bike mais “clean” - limpo, um “half-link”  (meio-elo) faz o ajuste fino, mas só tem no exterior nas medidas 3/32 (fina) e 1/8 (grossa). No caso da corrente grossa – você pode fazer um a partir de um pedaço de corrente de meio-elo que são encontradas no Brasil. Não use correntes de meio-elo, pois são caras e “laceiam” rapidamente.

Half-Link Avulso



3) Movimento Central. No caso de você estar convertendo uma bicicleta que tenha pedivela triplo, talvez seja necessário trocar o movimento central no caso do cubo traseiro de rosca ter sido re-espaçado para ter uma boa linha de corrente – no post: “Como Medir a Linha da Corrente da sua Bike Fixa esse assunto é abordado em detalhes. É importante enfatizar que ter uma boa linha da corrente traz os seguintes benefícios: 1) menor desgaste da transmissão (coroa, roda-livre e corrente); 2) fica mais silencioso; 3) diminui as possibilidades de queda da corrente – o que pode provocar um acidente.

Ressaltando que em geral uma bike com pedivela triplo usa movimento central com eixos entre 115mm e 127mm; enquanto que numa singlespeed ou fixa os eixos ficam entre 102mm e 111mm – dependendo do modelo de pedivela e do movimento central de ponta quadrada que podem ser no padrão ISO ou JIS. Pedivelas para movimento central com ponta quadrada são melhores para singlespeed/fixa, pois tem mais opções de tamanho do eixo do movimento central.

4) Kit de Espaçadores. Isso no caso de cubos K-7 que estão sendo convertidos para singlespeed. A maioria dos kits é para os cubos K-7 da Shimano, que também servem nos SRAM. Eles podem ser adaptados para cubos K-7 da Campagnolo, basta eliminar algumas “guias” em alto relevo. A Wheels Manufacturing vende um kit de espaçadores e pinhão desenhado para os cubos da Campagnolo. Os espaçadores podem ser aqueles descartados de cassetes antigos ou podem ser feitos por um torneiro em alumínio; ou utilizar “luvas” em PVC de tubulação hidráulica – isso foi objeto da DICA 2 no post: Bike Fixa: Dicas, Macetes e Gambitechs”.

Cubo K-7 Campagnolo com Espaçadores de Aluminio



Espaçador "caseiro" Montado em Cubo K-7 (Dica 2)



5) Catraca / Roda-Livre Uma Velocidade. Essa compra será necessária, caso você tenha re-espaçado o cubo de rosca para acomodar uma catraca simples. A relação coroa x catraca deve ser escolhida  em função dos seguintes  fatores: condicionamento físico do ciclista; topografia da região / caminho aonde pretende pedalar; uso da bike (meio de transporte, lazer) etc. Por exemplo,  uma relação  48 X 18 ou 50 X 18 é bem tranquila para pedalar em regiões planas a beira mar ou nas proximidades das margens de rios.

Roda-Livre ENO (White Industries) em INOX ( É a Top)



Uma dica: Antes de fazer a conversão para singlespeed da sua bike de marchas, faça um teste / experimente andar na região que você pretende usar a sua singlespeed com uma única marcha – isto é: por exemplo – 46 X 17 ; e em outro dia 46 X 15; ou ainda no caso de speed 53 x 20 e assim por diante até achar uma relação que você se sinta confortável.  Esse experimento pode ser feito com qualquer cubo para marchas e com isso você descobre a relação (coroa X roda-livre) mais adequada para você.

Lembrando que uma catraca de uma velocidade é muito mais barata que uma coroa do pedivela, uma DICTA ou ACS custam ao redor de R$ 25,00 e as Xing-Ling cerca de R$ 7,00. Compre uma catraca para corrente fina (6, 7 ou 8 velocidades), assim você pode reaproveitar a sua corrente para  marchas.

6) Manetes de Freio. Caso você tenha manetes  STIs ou Ergopower na sua bike de speed ou manetes Rapid Fire integrados na sua MTB ou híbrida, será necessário substituí-los por manetes de freio compatíveis com as pinças de freio e com o tipo de guidão usado.

7) Parafusos da Coroa. A eliminação de uma das coroas pode requerer a troca dos parafusos da coroa por uns para coroa simples. A alternativa é comprar arruelas de pressão de 10 mm de diâmetro interno (vide Dica 1 neste post AQUI) ou espaçadores de alumínio (só no exterior) para ocuparem o espaço da coroa eliminada.

Em termos de serviços da bicicletaria, no caso de troca do cubo - será necessário fazer a montagem da nova roda e serão necessários raios novos, ou re-alinhar ela no caso de re-espaçamento do cubo de rosca. E, talvez a troca do movimento central por um com eixo mais curto.

Os demais componentes de uma bike singlespeed são os mesmos utilizados em bikes de speed, BMX, hibridas ou MTB, e ficam a critério / gosto do ciclista.


Neste link  AQUI tem um artigo sobre o assunto escrito por Keith Bontrager (veja a história dele aqui) cujo titulo é: “Build a "Single Speed" from the Reject Pile (or real cheap anyway)”. Ele está em inglês e infelizmente esse artigo foi retirado do site da Bontrager, mas eu tinha feito uma cópia.


Boas Pedaladas à Todos

By MarchaFixa

http://www.scribd.com/doc/120527035/Build-a-Cheap-Singlespeed-Bike