Bianchi Ocelot MTB Fixa (pinhão Surly Dingle 21x17 e a altura do mov.central é 29cm)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Bike de Pista VS. Bike Fixa

Neste post vou contrastar as principais diferenças entre uma e a outra. A bike de pista neste caso é aquela de competição utilizada em velódromos e a outra é usada nas ruas, nas trilhas etc.

Obviamente, existem gradações entre uma e a outra, mas vou colocar os extremos para realçar as principais diferenças.

Uma bike de pista é também uma bike fixa, mas uma bike fixa nem sempre pode ser considerada uma bike de pista, pois ela pode ser barrada no velódromo. Mesmo em caso de treino, por causa do movimento central baixo, pedivela longo, tipo de pneu etc. O mesmo não acontece com uma bike de pista se o dono decide pedalar nas ruas.

Receio que cada vez mais vai ficar difícil identificar um quadro de pista puro de cro-moly de um quadro de fixa em cro-moly, pois ambos têm gancheiras horizontais (de pista). Existem alguns indícios para separá-los, a de pista tem algumas peculiaridades tais como: tipo de garfo (as vezes entra no máximo pneu 700x23); traseira curta, distancia entre eixos curta, ângulos altos do tubo do selim e do frontal etc. Os quadros de pista puros tem de espaçamento entre gancheiras 120mm ou até 110mm no Japão, mas nas fixas urbanas a variação da distância entre gancheiras é enorme: variam de 110mm (quadro keirin) até 135mm (MTB convertida). No quadro abaixo faltou mencionar uma exceção, os quadros keirin (Japão) são todos feitos em cro-moly conforme as regras da NJS.

Tabela Sumária - Principais Diferenças

Olhando a tabela acima, uma palavra define a fixa urbana: miscelânea. Na verdade, a bike fixa é no fundo uma coisa muito pessoal, e elas surgiram basicamente pela adaptação de bikes de estrada antigas. A maioria das bikes fixas postadas no Fixed Gear Gallery tem essa origem. Ressalte-se que a bikes de pista puras são muito semelhantes entre si, e isso é levado ao extremo no Japão devido às regras da NJS, cujo objetivo é que o atleta vença a competição e não o equipamento. No outro extremo, temos as bikes fixas urbanas que tem uma diversidade quase que infinita como pode ser vista na coleção de fotos da Fixed Gear Gallery.

As fixas e singlespeeds propiciaram às pessoas descobrirem que não necessitam de tantas marchas numa bicicleta como o pessoal de marketing quer nos fazer acreditar. Além disso, redescobriram aqueles momentos da infância em que já pedalávamos bike fixas. No triciclo infantil, você move os pedais e a roda gira , inclusiva na descida, como acontece na bike fixa.

Outro aspecto interessante é que uma bike fixa fica muito mais leve que uma bike com marcha (obviamente) e o donos passam a ver com novos olhos aquela antiga bicicleta pesadona e cheia de rangidos, que agora está leve e silenciosa.

Uma Caloi 10 dos anos 70 ou 80 pesava cerca de 15,7 kgs (peso mencionado no manual do proprietário), a qual remontada com componentes de alumínio de qualidade mediana /razoável vai pesar cerca de 10 kgs. Um bike MTB de carbono com componentes top, pesa entre 9 a 9,5 Kgs.

As bikes de pista para competição estão sujeitas às regras das instituições que as organizam: UCI, NJS (Japão) etc. Por outro lado, as bikes fixas não têm regras, você é livre para montá-la do jeito que quiser, exceto quatro regras que devem ser observadas por razões de segurança: corrente tensionada; uma boa linha de corrente (problemas com isso pode ocasionar a queda/desengrenagem da corrente que resulta em acidentes); freio dianteiro para emergências (os puristas abominam, pois estraga o visual “zen”); e firma-pé ou pedal clipless, para ter o controle do pedivela/pedais. Esses aspectos foram expandidos e constituem um post a parte: As Sete Regras da Fixa, mas Bike Fixa Tem Regras ???

Apesar da maioria das fixas atualmente no Brasil terem como origem  bikes speed antigas (gancheira horizontal), alguns buscam que ela seja o mais próximo da bike de pista (esses são os fixeiros puristas), e usam mesa com ângulo baixo e guidão “drop” de pista e sem freios.  Porém a bike de pista pura, não é adequada para pedalar nas ruas, dada a posição que você fica, o que dificulta uma direção defensiva, e os componentes não foram construídos para agüentar o acelera/freia ou pedala/skid.

Essa onda de bikes fixa resgatou e deu uma nova finalidade à esses quadros e bicicletas antigas de aço e cro-moly cujo destino era serem transformado em insumos para uma usina siderúrgica.

By MarchaFixa

terça-feira, 19 de abril de 2011

Bike Fixa com Quadro de Gancheira Vertical: Quatro Opções para Tensionar a Corrente

Um requisito básico para uma bike de pinhão fixo é que a corrente esteja sempre bem tensionada, para evitar de cair e provocar um acidente. Para isso, o melhor é que o quadro da bike fixa tenha gancheiras horizontais, sejam elas de estrada ou de pista. 

Bike de Estrada / Speed: GancheiraVERTICAL


Entretanto, a grande maioria dos quadros modernos (estrada e MTB) que são usados na conversão para fixa vem com gancheira vertical, mas isso cria um problema quando se usa uma roda com pinhão fixo.




Bike de Estrada / Speed: Gancheira Horizontal


Para resolver o problema de tensionamento da corrente existem quatro maneiras de usar pinhão fixo em um quadro com gancheira vertical:

1) "Magic Gear":  Consiste em achar a relação pinhão x coroa que mantém tensionada naturalmente a corrente, e as vezes usar um "half link".  Existem softwares que calculam isso, dada a distancia entre o centro do eixo traseiro e o centro do movimento central. O inconveniente:  Não é possível trocar a relação, ou seja,  inexiste flexibilidade. O site onde tem esse calculador é: http://eehouse.org/fixin/formfmu.php?maxRing=53&minRing=34&maxCog=20&minCog=13&stayLen=42&wheelDiam=26.16&isMetric=1&display=png&useHalfLink=&stretch=0&axleAdjust=vert&sortKey=Stay_length

Além desse sistema, existe um artigo Magic Gears and Half Links” de autoria de Todd Posson no site www.63xc.com e o link é: http://www.63xc.com/toddp/halflink.htm , nele o autor fornece mais detalhes sobre o que está por trás do software de calculo do “Magic Gear” mencionado acima.

Utilizei esse sistema em uma KHS Aero Turbo, que tem gancheira vertical, e a relação que funcionou foi 42 x 16. Coincidentemente, tenho visto que essa relação funciona para muitas bikes, como pude constatar acompanhando a postagem no Fixed Gear Gallery. No post "Bike Check: Airborne Zeppelin Fixa (titanio)" e' mostrado como o "Magic Gear" foi implementado em uma fixa feita com um quadro Airborne. Observem na foto abaixo que o suporte para o câmbio traseiro foi extirpado.
 
KHS Aero Turbo - Magic Gear 42 x 16

2) Cubo Ecentrico ENO : Essa solução é fabricada pela White Industries (USA), e funciona muito bem. Já pedalei ele instalado em uma bike Airborne Zeppelin (titânio) convertida em fixa, e não tenho o que reclamar. O pinhão é de engrenagem de encaixe e isso elimina o risco da rosca espanar.  Inconvenientes:  O pinhão é especifico (da White Industries) e custa cerca de US$ 45.00. O custo do cubo nos USA é de cerca de US$ 140.00. Na minha opinião, só compensa quando o quadro é de muito boa qualidade (carbono , scandium, titânio, Columbus Ultra Foco etc.).

Cubo Ecentrico Eno - White Industries
Pinhao Eno de Encaixe

Recentemente a FixKin, empresa italiana que cria componentes imaginativos para bike fixas, desenvolveu um adaptador que converte um cubo de fixa nornal em cubo excêntrico. Isso foi objeto de um post: "Como Converter Cubo de Disco em Cubo Excêntrico para Bike Fixa com Gancheira Vertical". A foto está abaixo. E também está vendendo somente o eixo excentrico por Euro$ 22.00 + frete, que se constitui uma maneira muito barata de ter um um cubo excêntrico com ótima relação custo/beneficio.

Cubo de Disco Convertido em Cubo Excêntrico

Eixo Excentrico da FixKin para Cubo de Disco Shimano


Cubo da FixKin Excentrico com Pinhão Parafusado




3) Movimento Central Ecentrico: Eles surgiram primeiro para as bicicletas Tandem. Atualmente existem dois fabricantes desses dispositivos para bikes que tenham a caixa/tubo aonde vai rosqueado o movimento central, com comprimento de 68 mm e rosca inglesa na medida: 1,37” x 24 TPI.

Uma empresa canadense (http://www.forwardcycle.com/) desenvolveu uma adaptação que permite substituir os copos do movimento central Hollowtech II da Shimano por esses copos ecentricos e as esferas são fornecidas pela KLM que as vende como reposição das esferas do movimento central da Shimano. 

Entretanto o sistema tem quatro inconvenientes: 1) as opções de pedivela são mais restritas (basicamente os modelos de pedivela da Shimano que usam o Hallowtech II), pois no caso do cubo ecentrico voce pode usar o pedivela que quiser; 2) passar o sistema para uma outra bike é muito mais trabalhoso do que trocar de roda (cubo ecentrico); 3) o preço do sistema rivaliza com o do cubo ecentrico ( US$ 160.00 +frete); 4) dependendo da combinação coroa x pinhão, é necessário usar um "half-link" para a corrente ficar  bem tensionada.

Além da Forward Cycle, existe o MC ecentrico fabricado pela empresa alemã  Trickstuff - denominado Exzentriker, cujo link é: (http://www.trickstuff.de/shop/index.php?language=en&cat=c58_Exzentriker.html ) e que custa E$ 160.00, e funciona de modo semelhante ao da Forward Cycles. 

Movimento Central Ecentrico da Trickstuff


Movimento Central Ecentrico com Pedivela Shiamno p/ MC Hollowtech II


A Niner, fabricante de bicicletas de aro 29”, equipou suas bikes com um movimento central ecêntrico, para serem utilizadas como singlespeed tendo uma gancheira vertical, o link é:

Existe também no caso da Niner, a mesma  limitação do tipo de pedivela que é compatível com o sistema deles, e somente os pedivelas que usam copos externos rolamentados funcionam, e que basicamente são  os da Shimano para MTB. 

É importante ressaltar que a Niner adotou essa solução do movimento central ecentrico para poder utilizar freios a disco na traseira, que requerem gancheiras verticais para manter o cubo / disco de freio sempre na mesma posição.

4) Trocar a Gancheira: Neste caso , muitas vezes, é preciso um especialista no assunto; ou seja um "framebuilder", ou alguém que tenha bom conhecimento dos tipos de aço utilizados nos quadros de bicicletas assim como dos limites de temperatura para não enfraquecer o tubo durante a solda. E isso é mão de obra escassa e concentrada em umas poucas regiões do país.

A grande maioria das gancheiras de pista (horizontais) são feitas para serem soldadas com prata (baixa temperatura) por brasagem e assim há menor probabilidade de afetar a resistência dos tubos da traseira do quadro. O método da brasagem  demanda mais experiência do soldador.

Esse é o tipo de gancheira de pista tradicional que são soldadas com prata, mas não oferecem muitas opções de angulo:

Gancheira de Pista


Essa gancheira mostrada acima foi montada no quadro abaixo:

Gancheira Soldada por Brasagem


Em minha opinião, as gancheiras da Surly ( para solda TIG, MIG ou "filet brazing") são as que oferecem mais opções , sejam de ângulo, como oferecem menos risco em termos de afetar os tubos da traseira da bicicleta, pois elas podem ser soldadas à gancheira antiga que foi recortada e não diretamente nos tubos - que é o caso mostrado nas fotos acima.

Vejam a gancheira traseira recortada de uma bike na qual será soldada à uma gancheira da Surly com TIG:

Gancheira Recortada p/ Acomodar a Surly
Abaixo temos as gancheiras da Surly feitas em aço cro-moly (4130), que serão soldadas no que restou da gancheira vertical. 

Gancheiras Surly Horizontais p/ Bike Fixa


Depois de soldado com a TIG, as gancheiras de pista da Surly  ficaram assim:

Gancheira Soldada no Resto da Antiga

A descrição da gancheira da Surly:
 
As gancheiras horizontais da Surly também chamada de gancheiras de pista vêm em duas versões, com suporte para cambio traseiro ou sem ele – pista puro. Estes são os mesmos que são usados ​​para fazer os quadros modelo 1 x 1,  Steamroller, and Karate Monkey. Elas podem ser soldadas com TIG / MIG ou “fillet brazed”.


Gancheira Surly para Marchas ou Fixa


Existe mais gente habilitada a fazer solda com TIG ou MIG do que soldadores com boa experiência com solda de prata à baixa temperatura (método da brasagem).  O par de gancheiras da Surly custa ao redor de US$ 20.00 (Cambria Bikes) até US$ 43.00 (JensonUSA).

Uma excelente opção é trocar a gancheiras de MTB para convertê-las em fixas, pois o MC tem uma boa distancia do solo, e isso é importante para fixas de uso urbano. Vide o seguinte link onde é descrita uma conversão de MTB: http://bikefixabr.blogspot.com/2011/03/conversao-de-uma-mtb-peugeot-em-fixa.html


Neste link AQUI para o Flickr existem mais fotos sobre a troca de gancheiras verticais por horizontais de pista.

No blog PinhaFixa (de Porto Alegre) e' mostrado esse processo utilizando um outro tipo de gancheira, neste link aqui.


Neste post "Como Fazer a Troca das Gancheiras Usando um “Gabarito” Simplificado" é mostrado como efetuar a troca das gancheiras de uma maneira bastante simples utilizando solda MIG ou TIG.   

Existe uma Quinta maneira de converter gancheira vertical em horizontal, a qual descrevemos neste post: "Como Converter Gancheira Vertical em Horizontal: Use o Adaptador Road2Pista"   A foto desse adaptador de gancheira está abaixo. Esse dispositivo pode ser comprado aqui.


Adaptador de Gancheira Road2Pista

Resumindo, a melhor opção irá depender do tipo e qualidade do quadro que você quer utilizar para montar uma bike fixa. Entretanto, quadros de scandium, titânio e carbono basicamente têm duas opções que são as alternativas ecentricas e o "magic gear".

Onde comprar gancheiras para conversão:


By MarchaFixa

Como Converter Cubo de Disco em Cubo de Fixa

O uso do cubo de disco como cubo de fixa surgiu da insatisfação dos fixeiros urbanos com o fato dos cubos de pista tradicionais com lockring espanarem a rosca.

No post Pinhão com Lockring vs. Pinhão Parafusado é feita uma comparação dos méritos de cada uma dessas alternativas. Na minha opinião, o cubo de disco com pinhão parafusado é melhor para ser usado nas ruas. Eu uso tanto pinhão com lockring como o pinhão parafusado nas ruas de São Paulo. Sugiro que voce leia e tire suas próprias conclusões. 

Caso voce tenha dúvidas sobre a durabilidade do cubo com pinhão parafusado leia o post: "Pinhão Boone Parafusado no Cubo de Disco", onde um cubo de disco convertido para uso fixo é utilizado em condições extremamente adversas e sobrevive.

O cubo de pista tradicional possui duas roscas: uma para o pinhão com rosca horária na medida 1,37” x 24 TPI e outra para a contra-porca (lockring) com rosca reversa ou anti-horária na medida 1,29” x 24 TPI , essa segunda rosca é menor que a primeira. 

As roscas de ALUMINIO espanam por causa das imensas forças (torque) aplicadas sobre o pinhão de CRO-MOLY rosqueado no ALUMÍNIO. O pinhão é puxado em direções opostas, quando você pedala ele é apertado no cubo , e quando dá um SKID (frear imobilizando o pedivela / roda traseira) ele é desapertado e só não desrosqueia por causa da contra-porca (lockring) que segura. Havendo folga da contra-porca, as roscas do sentido horário do cubo podem ser danificadas por causa desse aperta/desaperta (acelera/freia) que é comum no uso urbano de um cubo de pista. Isso não acontece no velódromo na mesma freqüência que ocorre pedalando nas ruas (sinais, saídas de carros, motoqueiros, passagem de pedestres etc.).

Um artigo que difundiu isso foi Disk Hub / Fixed Hub” escrito por Jason Millington e publicado no site/pagina: http://www.63xc.com/jasom/milldisc.htm , o qual influenciou John Chow que publicou dois artigos sobre o assunto: um sobre sua experiência com o pinhão parafusado Boone de titanio, que traduzi e está neste link: http://bikefixabr.blogspot.com/2011/04/pinhao-boone-titanio-parafusado-no-cubo.html, e o outro sobre como fazer a conversão do cubo de disco para cubo de fixa e que foi publicado no site da Fixed Gear Gallery (link: http://www.fixedgeargallery.com/articles/tomchow/dischub/). Existe um outro artigo sobre esse processo de conversão: "Surly New Disc Fixed Hub Conversion" que mostra como  converter um cubo dianteiro de disco da Surly em cubo de fixa traseiro.  

Depois surgiram três fabricantes de pinhões parafusados para cubos de disco, dois nos Estados Unidos (TomiCogs e agora a Phil Wood ) e a Velosolo Bikes na Inglaterra. Na Italia existe a FixKin e no Brasil eles são fabricados pelo Silas.  O site da Velosolo é excelente em termos de explicações sobre a conversão do cubo de disco.

O primeiro fabricante de um cubo especifico para pinhão parafusado é  a Phil Wood, sobre o qual escrevi recentemente: "Pinhão Parafusado é Gambiarra? Não É, Segundo a Phil Wood"

No link abaixo tem um post do MTB Forum onde os usuários desse sistema falam um pouco de sua experiência:

http://forums.mtbr.com/showthread.php?t=383068

Entretanto, neste artigo pretendo fazer uma descrição um pouco mais detalhada e explicando as razões de fazer o re-espaçamento do cubo de disco de certa maneira via comparação com um cubo de pista para competição (Dura Ace HB-7710) que vem com um pinhão de cada lado, ou seja fixo duplo.

No Brasil, seu uso difundiu-se por duas razões: 1) pouca disponibilidade de cubos de fixa ("pista"); e 2) alto preço dos cubos de fixa mais simples. Até pouco tempo atrás, um par de cubo de fixa Fórmula ou Roberto's era vendido por R$ 220 à R$ 250,00; e são cubos básicos. Recentemente, surgiu o cubo de pista traseiro da Shun Feng (chinês) por R$ 49,00. Entretanto esse cubo de fixa da Shun Feng NÃO AGUENTA SKIDS conforme relato encontrado neste forum aqui: "O Cubo shunfeng de contra-porca flip flop é um bom cubo, tem ótimos rolamentos mas se você for dar skids esquece! espanei o meu com 6 meses de uso. Se for só usar freio mesmo e no máximo pedalada contrária e trackstand aí pode usá-lo de boa." Ressalte-se que os cubos para fixa da Fórmula, Roberto´s e Shun Feng são cubos tradicionais que usam duas roscas, uma para o pinhão e outra para o lockring (contra-porca).

Por outro lado, um cubo de disco de procedência chinesa custa entre R$ 30 a R$ 50,00, acrescente o custo de um eixo novo, mais pinhão de cargueira,  e furação do mesmo , e o trampo de re-espaçar o cubo; o resultado é que os custos se equivalem ou ultrapassam o de um Shun Feng de pista; entretanto inexiste o risco da rosca espanar. 

Nos parágrafos seguintes vamos detalhar como fazer o re-espaçamento do cubo de disco dianteiro devido a troca do eixo por um maior, adequado para colocar na roda / gancheira traseira.

O objetivo do re-espaçamento é poder montar uma roda traseira bem robusta. Isso é obtido usando-se raios de mesmo comprimento em ambos lados da roda, que fiquem com o mesmo angulo em relação ao centro do cubo, e assim os raios terão também a mesma tensão em ambos os lados.

Observem o cubo de pista Shimano Dura Ace HB-7710, ele tem uma simetria perfeita, assim como o cubo dianteiro de MTB Suntour XC Pro; isto é, qualquer distancia medida do centro do cubo para o lado esquerdo ou para o lado direito são iguais. Isso significa que esse cubo traseiro de pista vai ser montado / enraiado em uma roda traseira da mesma maneira que é montada /enraiada uma roda dianteira. 

Cubo de Pista Dura Ace HB-7710 - Medições

Dura Ace Pista Traseiro e Suntour MTB Dianteiro


O primeiro passo é a escolha do cubo de disco. Ele deve ser de esferas; ou no caso dele vir com rolamentos - tenha certeza que esteja usando um EIXO "LISO" (SEM encosto fixo para o rolamento - VIDE FOTO ABAIXO), caso contrario não é possivel re-espaçar o cubo. Em geral a escolha recai sobre o cubo dianteiro de disco (vide os eixos desses cubos na foto abaixo), mas um traseiro com rosca para roda-livre com marchas é perfeito, pois pode virar flip/flop (pinhão de um lado e roda-livre de uma marcha no outro).

Eixos Lisos: Shimano Deore HB-M525 (110mm) p/ Blocagem Dianteiro e o Traseiro Sólido (porcas) para Conversão do Cubo Deore com 174mm e rosca: 10mm de diâmetro x 1 fio de rosca por milimetro

Eixo com "Encosto Fixo" para Rolamentos


Os melhores cubos de disco dianteiros para isso são os da Shimano com seis furos, que eles estão parando de fabricar, foram substituidos por aqueles com o sistema Centerlock. Eles usam eixo de 10mm de diametro, ou seja, é o mesmo diametro usado pelos cubos traseiros de fixa/pista ou estrada.

Cubo de Disco Dianteiro Deore HB-M525
Recentemente descobri que a Shimano tinha mudado o diametro interno do eixo dianteiro dos cubos de disco HB-M525 e HB-M475, mas não sei se isso ocorreu com o HB-M756 (Deore XT).

Antigamente o eixo tinha um diametro interno de 10mm (vide detalhes AQUI ), e sómente a ponta que encaixa no garfo era de 9mm e NÃO TINHA ROSCA (esse detalhe permite identificar os cubos antigos que podem ser convertidos facilmente). Agora o eixo tem o mesmo diametro internamente e externamente de 9mm (vide detalhes AQUI) e na ponta que encaixa no garfo TÊM ROSCA. 

 

Essa mudança dificulta a conversão desses cubos de disco da Shimano, pois não existem eixos sólidos com 9 mm de diametro suficientes longos para fazer a conversão - seria necessário um torneiro fazer um a partir de um eixo longo -  e as porcas com a rosca 9mm x 1 não existem no mercado local, mas só no exterior. 

 

Outro aspecto é que os eixos sólidos com diametro de 10mm para cubo traseiro tem um cone dimensionado para esferas de 1/4" (6.35 mm) de polegada, enquanto que a bacia dos cubos de disco DIANTEIROS Shimano usam esferas com diametro 3/16" (4,76 mm) polegadas. Portanto usar um cone traseiro (compativel com esferas 1/4") com esferas de 3/16" pode gerar uma folga no cubo, que é inconveniente. Ressalto que não testei isso ainda, para afirmar com 100% de certeza. Essa dúvida sobre o uso de um cone para esferas com 1/4" de polegada em uma bacia com esferas de diametro 3/16" polegadas foi elucidado, vide este post AQUI.


Na sequencia, desmonte o cubo para determinar a rosca/diametro do eixo sólido que deve ser comprado. Recomenda-se levar uma das contra-porcas ou cone para não dar chabu. Não esquecer de comprar uns espaçadores, pois o eixo será maior que um dianteiro. O cubo dianteiro tem 100mm de comprimento, como ele vai ser usado , por exemplo, em uma bike de estrada convertida que tem espaçamento entre gancheiras de 130mm, serão necessários adicionalmente 30mm de espaçadores.

Caso voce não encontre um eixo apropriado, voce pode pedir para um torneiro fazer, basta levar o eixo antigo e um cone ou contra-porca.

O comprimento do eixo vai depender do espaço entre as gancheiras:

Gancheiras                        Compr. Eixo
110mm (pista antigo)             155mm (1)
120mm (pista)                        164mm
126mm (speed antiga)            170mm
130mm (speed/MTB antiga)   174mm
135mm (MTB)                         180mm

Na terceira etapa, vamos remontar o cubo com o novo eixo e os espaçadores adicionais. Lembrando o que já falamos antes que a roda precisa ser robusta e portanto o cubo será montado da mesma maneira que um de pista para competição. Observem na foto abaixo, onde é mostrado um cubo de pista Dura Ace HB-7710, com as respectivas distancias do centro do cubo (o centro do cubo é a metade da distancia entre as flanges). Todas as distancias são simétricas – a distancia do centro do cubo até a contra-porca do lado esquerdo é a mesma da do lado direito e assim por diante. Ressalte-se que esse cubo Dura Ace é para quadro de pista com espaçamento entre gancheiras de 120mm, e portanto o eixo tem 164mm de comprimento.

Medições do Cubo de Pista Dura Ace
Na foto abaixo mostramos um cubo de disco da marca Quando (chinês) com suas respectivas medições. Aconselho a fazer isso, marcar no papel as medições, pois fica muito facil determinar quantos milimetros de espaçadores adicionais precisam ser colocados de cada lado do cubo de forma que a distancia do centro do cubo até a contra-porca (que encosta na gancheira) seja a mesma para ambos os lados. Determinado o centro do cubo, que é metade da distancia entre as flanges, então precisamos marcar qual a distancia que irá ficar a contra-porca a partir do centro do cubo no novo eixo, supondo que o espaçamento da gancheira seja de 130mm, ela ficará à 65mm do centro do cubo em ambos os lados. O proximo passo é marcar a posição atual da contra-porca esquerda e da direita, use um esquadro para isso. A quantidade em milimetros de espaçadores será determinada pela diferença entre a posição atual e a nova das contra-porcas com o eixo sólido de  174mm. Observe as fotos abaixo onde isso é mostrado.

Cubo de Disco Dianteiro Quando + Medições
Alocação dos Espaçadores 
Na foto acima podemos ver que para ficar tudo simétrico serão necessários adicionar 10mm de espaçadores no lado que vai o pinhão e 20mm no outro lado, totalizando 30mm de espaçadores.


Cubo de Disco Deore Montado com Eixo Sólido
Observe na foto acima do cubo montado que tem mais espaçadores do lado esquerdo do cubo (direito na foto) do que no lado que vai ser parafusado o pinhão. Esse cubo montado no aro terá os seus raios posicionados simétricamente.

Ressalte-se que isso pode ser feito igualmente para qualquer espaçamento entre gancheiras / comprimento de eixo sólido.

A penultima etapa é enraiar / montar o cubo convertido no aro. Ressalte-se que deixar o cubo simétrico é o ideal, pois assim os raios terão o mesmo comprimento, o mesmo angulo em relação ao centro do cubo e a  mesma tensão em ambos os lados. Entretanto, nada impede de fazer o “chapéu chinês” para jogar o lado do pinhão mais para direita visando ter uma melhor linha da corrente, mas para isso será necessário transferir espaçadores do lado direito para o esquerdo. Porém a roda não ficará tão robusta quanto a montada simétricamente, como são montadas as rodas dianteiras.

Roda Traseira Simétrica com Cubo de Disco para Fixa


Na quinta etapa, vamos furar o pinhão de cargueira de encaixe, pois ele fica melhor assentado no cubo, e é importante que ele não seja vazado para não atrapalhar a furação. Nada impede de usar um pinhão singlespeed que tenha estrias - a Surly e a Gusset os fabricam. O menor tamanho que pode ser furado é o com 16 dentes. Na Velosolo, eles tem um com 15 dentes, mas para isso precisa de parafusos especiais para ser parafusado no cubo. Visando ter uma boa furação que seja simétrica aos furos do cubo de disco é melhor usar uma furadeira de bancada. Além disso, é necessario um rotor de freio a disco que servirá de gabarito para efetuar a furação. Existe a alternativa de comprar um pinhão pronto, já furado: Velosolo (UK),  TomiCogs (USA), FixKin (Italia), Phil Wood (USA) ou Silas (Brasil).

Pinhão com o Gabarito de Furação (rotor de disco)

Cubo Deore Montado na Fixa

A última etapa consiste em montar o pinhão no cubo, para isso use parafusos allen para prende-lo no cubo, o comprimento do mesmo vai depender da espessura do pinhão e se vão ser usadas arruelas. Caso necessário, pode adicionar arruelas para deixar o pinhão mais alinhado com a coroa do pedivela. Eu prefiro usar arruelas de pressão de aço inox (ficam mais justas, e com isso a estética não sofre). Além disso, o mesmo pode ser feito com os parafusos da coroa, isto é adicionar arruelas de pressão (mas retire a pressão com dois alicates – nevelando-as), para ficarem mais proximas do quadro ou vice-versa, cujo resultado é uma melhor linha de corrente.

Agora é só pedalar com a nova roda fixa.

By MarchaFixa

Obs.: (1) Quadros antigos de pista tinham 110mm de espaço entre gancheiras, isso ainda existe nos quadros keirin  japoneses; pois a Dura Ace (Shimano) ainda fabrica cubo de pista com esse tamanho de eixo.

P.S.:  Já vi no facebook gente perguntando como colocar rolamentos em um cubo que usa cone e esferas soltas. Fiz uma pesquisa no google com as palavras: "how to take out cartdrige bearings from a hub" e encontrei bastante coisas sobre o assunto. Existem duas complicações nisso: 1) tirar as bacias do cubo sem danificá-lo; 2) achar os eixos com "encostos" que são apropriados para os rolamentos. Existe um link para um forum onde isso é tratado - como tirar as bacias: http://www.bikeforums.net/classic-vintage/347318-replacing-hub-races.html .

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Como Converter Pedivela Triplo de MTB em Pedivela para Bike Fixa

A reciclagem dos pedivelas TRIPLOS de MTB, principalmente os antigos com 170mm de comprimento, faz sentido porque a furação deles é de 110mm BCD e com 5 furos, e existem coroas em abundancia nessa furação (a mesma de BMX e dos pedivelas compactos de estrada). Além disso, muitos vem com coroas de aço que são ótimas para fixa, e eles tem encaixe de ponta quadrada e para isso existem movimentos centrais com eixos mais curtos ( deixam a transmissão com uma boa linha da corrente) que permitem que esse tipo de pedivela seja  usado em uma fixa ou singlespeed.

Existe uma maneira de descobrir a furação de um pedivela ou coroa para isso basta medir a distancia de centro-a-centro de dois furos contíguos em milímetros e multiplicar por 1,7. Um pedivela / coroa com furação de 110mm BCD tem uma distancia entre furos de 64,7mm, e um de 130mm BCD (padrão Shimano de estrada) tem 76,5mm, multiplicando-se essa distancia por 1,7 teremos 130mm BCD.

Tabela p/ Identificar Furação da Coroa (c/ 5 furos)


Os pedivelas que usam o sistema Octalink da Shimano ou ISIS ou outro tipo de movimento central estriado, não oferecem muitas opções de comprimento de eixo, e, portanto o trabalho de reciclá-los não vale à pena. A exceção é o pedivela XTR que usa a mesma versão de movimento central Octalink do grupo Dura Ace de estrada, que neste caso o MC tem um eixo de 109.5mm de comprimento.

Muitos dos pedivelas TRIPLOS de MTB da Shimano, Suntour, Sugino e Sakae produzidos nos anos oitenta e noventa vinham com uma furação de 110mm BCD e com 5 furos, que também é muito usada pelas BMX e hoje é a furação padrão dos pedivelas duplos compactos de estrada, que em geral tem uma relação 50 x 34 dentes . Em suma, essa furacão de 110mm BCD e com 5 furos,  têm uma boa oferta / disponibilidade de coroas com variados números de dentes. Além disso, muitos têm coroas de aço que são ótimas para bike fixa, pois são mais rígidas e resistentes que as de alumínio, ou seja, são mais adequadas para dar conta do alto torque da pedalada ou freada, e uma única coroa de aço não acrescenta muito peso a bike. Porém, o que se ganha em longevidade mais que compensa às poucas gramas adicionais, neste tipo de aplicação uma coroa de aço dura cinco vezes mais que uma de alumínio (fonte: http://www.63xc.com/mattc/surlyring.htm ) . Ressalte-se que a Surly está fabricando coroas em aço inox destinada à bikes fixas e singlespeed nas furações mais populares: 94mm (MTB); 104mm (Shimano MTB); 110mm (BMX, MTB Antiga) e 130mm (Shimano / SRAM estrada).

Pedivela Deore LX Triplo - FC-M550 (110mm BCD)
Pedivela Triplo SEM as Coroas

Outro aspecto é que a Shimano mudou a furação dos seus pedivelas de MTB, atualmente o BCD (Bolt Circle Diameter) é menor (104mm) e agora eles tem 4 furos e com isso muitos ciclistas abandonaram aqueles com a furação antiga – 110mm BCD e 5 furos, e, portanto eles são bons candidatos para uma conversão. Ressalte-se que esses pedivelas antigos da Shimano são de melhor qualidade, pois são forjados, do que esses da Sugino para BMX vendidos nas bicicletarias de bairro. 

O pedivela mais popular entre os fixeiros brasileiros é o da Sugino para BMX que usa movimento central ponta quadrada, e vem com uma coroa de 44 dentes e tem 170mm de comprimento e cuja furação é 110mm BCD, cujo preço fica entre R$ 60,00 a R$ 75,00. Esse pedivela não é forjado, e por isso é mais em conta. 

Pedivela Sugino p/ BMX (110mm BCD; 170mm e Não é Forjado)


A reciclagem ou re-aproveitamento de um pedivela TRIPLO em uma bike fixa consiste em eliminar os suportes para a terceira coroa, que é a menor coroas das três e que tem uma furacão de 74mm BCD, enquanto que as duas coroas maiores compartilham a furacão 110mm BCD.

Faz-se necessário eliminar os suportes da furação de 74mm BCD (da TERCEIRA COROA , a MENOR das três) porque usando-se um movimento central com eixo mais curto (requerido em uma fixa por causa da linha da corrente) eles fatalmente irão roçar o “chainstay” (tubos que vão da caixa do movimento central às gancheiras).

É importante ressaltar que o foco desta reutilização é aproveitar aquele pedivela Triplo que você não vê mais uso, ou está abandonado, ou ainda você está transformando em fixa uma MTB antiga, em uma bike fixa de baixo custo; e, portanto esse pedivela não precisa ser necessariamente com furação de 110mm BCD e 5 furos.  Ressalte-se que a Campagnolo lançou no passado pedivelas TRIPLOS de estrada (encaixe ponta quadrada) com furação de 135mm BCD para as duas coroas maiores e 74mm BCD para a coroa menor.

Focamos nos pedivelas TRIPLOS com furação 110mm BCD para MTB porque eles são mais abundantes que as demais furações e que em geral são para movimento central de ponta quadrada. Entretanto, o que discutimos do processo aplica-se a qualquer tipo de pedivela TRIPLO que você queira usá-lo em uma fixa.

A eliminação dos suportes da terceira coroa requer os serviços de um torneiro para que tudo fique bem acabado, simétrico /nivelado.

Pedivela com Suportes Eliminados e Extrator de Pedivela da Shimano

O importante nesse processo é ter um extrator de pedivela que possa ser preso adequadamente no torno, caso contrário podem acontecer três coisas: 1) o torneiro não fazer o serviço – pela dificuldade em prender o pedivela; 2) sugerir fazer um suporte ou ferramenta para prender o pedivela no torno – o que era simples e barato, torna-se caro e complicado; 3) prender a aranha do pedivela diretamente no torno, o que vai causar riscos profundos e indesejados, afetando a estética. Abaixo mostramos na foto alguns dos tipos de extratores de pedivela: 


Extratores de Pedivela

O da esquerda é da marca Shimano, o do meio é o da Park Tool mas o cabo está desrosqueado e o da direta  é da Campagnolo.

Pedivela com Extrator Rosqueado

Na foto abaixo está um pedivela triplo no qual foi eliminado o suporte para a terceira coroa.

Pedivela c/ Suporte da 3a. Coroa Eliminado

Pedivela Exage 300 Convertido (110mm BCD e 5 furos)
Resumindo, esse reaproveitamento vai custar bem menos que a compra de um pedivela barato disponível nas bicicletarias de bairro, e em termos de estética e durabilidade ( os Shimano, Suntour e Sakae são forjados), será muito melhor.

By MarchaFixa