Bianchi Ocelot MTB Fixa (pinhão Surly Dingle 21x17 e a altura do mov.central é 29cm)

quinta-feira, 31 de março de 2011

Guidões & Mesas para Bikes Fixas Urbanas

É importante lembrar que gosto não se discute; e existe uma enorme variedade de guidões que são usados em bikes fixas e o foco aqui não é o aspecto estético, não que ele não seja importante, mas em minha opinião o aspecto conforto e adequação ao contexto onde vai ser usada a fixa têm precedência.

Os fixeiros muitas vezes miram-se nas bicicletas de pista, porém elas foram montadas tendo em vista um contexto: velódromo /competição. Consequentemente, a aerodinâmica da bike é muito mais importante que conforto ou estética, e, além disso, o tempo em que o pisteiro pedala em uma competição no velódromo é muito menor que alguém que usa a sua fixa para ir/voltar do trabalho.

Por outro lado, tem fixeiros e também o pessoal de singlespeed (que talvez sejam milhões no dia a dia no Brasil, com suas Barra Forte e Barra Circular etc.) – pessoal que vai trabalhar de bike, que enfrentam diariamente outro contexto, que são as ruas cheias de carros, motos , caminhões, ônibus etc., onde existem faróis, cruzamentos, lombadas, buracos e grelhas de esgoto assassinas etc. Nada mais distante do contexto asséptico do velódromo: sem faróis, sem cruzamentos, sem lombadas e buracos etc.

Os fixeiros puristas preferem emular uma bike de pista, então a mesa /avanço é de 72 graus (paralela ao solo – caso a bike tenha geometria tradicional) ou ainda usam uma mesa mais agressiva, de 58 graus – tipo a Nitto Jaguar (certificada NJS) que é usada em competições de pista (Keirin) no Japão. Essa mesa Nitto deixa o ciclista em uma posição mais aerodinâmica. Obviamente, essa mesa faz parceria com um guidão de pista (“drop down”). Isso é ótimo no velódromo pela aerodinâmica, mas nas ruas Paulistanas e de outras grandes cidades o ciclista nessa posição não percebe totalmente o seu entorno e prejudica em muito uma direção defensiva por parte dele, e muitos não usam nem freio dianteiro.

Mesa Nitto Jaguar NJS - 58 graus

Guidao Nitto Pista /Track NJS



Bike de Pista c/ Mesa Jaguar e Guidao Nitto Pista/Track


A combinação de mesa/guidão “drop down” de pista (foto acima) tem outra desvantagem, além da apontada acima, eles pioram muito a posição para pedalar em pé na subida de modo a não forçar o joelho. Lembrando que velódromo não tem subida e nem descidas.

Uma alternativa muito popular é o “mini-bullhorn” que é feito cortando-se um guidão de estrada “drop down” e invertendo-o. O resultado é um tipo de guidão similar ao de MTB, reto com “bar ends” integrados. Nesta alternativa, o ciclista fica em uma posição mais alta e percebe melhor o seu entorno e tem uma posição mais adequada para pedalar em pé nas subidas; adicionalmente esse tipo de guidão oferece três posições para as mãos. Em geral, usa-se uma mesa de estrada (72 graus) – que vem com a bike de speed que foi convertida em fixa; mas nada impede de usar com uma mesa que tenha inclinação positiva – mesa de hibrida ou de MTB. 

A popularidade do bullhorn deve-se à posição que proporciona, que é muito similar à de bike de estrada - segurando o manete de freio/marchas - STI (Shimano) ou Ergopower (Campagnolo), como pode ser visto nas fotos abaixo. 

Guidao "Drop" Estrada com Manete STI - "chifre"

Observe na foto acima que o formato do manete adiciona o "chifre" ao guidão "drop" de estrada, proporcionando essa posição muito confortavel de segurar nos manetes. Os guidões "bullhorn" simplesmente replicam essa posição / formato, no lugar do manete vai a continuação do tubo do guidão para formar o "chifre", e o "deep drop" é eliminado.



Guidao "Drop" Estrada com Manete STI - Visão Geral


Mini-Bullhorn (guidão de estrada cortado/virado)

KHS Aero Track com Bullhorns


Existem guidões "bullhorn" (também denominados de "time trial" e/ou triathlon) à venda, e muitos são feitos para competições de “time trial” (prova de contra-relógio), e provas de triathlon, e eles são fabricados pela Profile Design, Syntace, Deda, Cinelli, e 3T entre outras. A Nitto (Japão) fabrica guidões "bullhorn" voltados para o uso em fixa urbana, assim como a Charge (UK), a Soma (USA) etc., e todos sem o sulco para o conduite de freio.


Nitto Bullhorn (sem sulco p/conduite de freio)


Eu gosto de usar os guidões bullhorn ou mini-bullhorn (guidão de speed cortado & virado) e também os de MTB com “riser” em uma mesa com ângulo de 90 graus, como essa mesa da Nitto modelo Dynamic II, para pedalar nas ruas de São Paulo. É importante lembrar, que é aconselhável utilizar uma mesa mais curta do que você está acostumado quando usa-se um guidão bullhorn original (no caso do mini-bullhorn isso não é necessário), pois os “chifres” são mais cumpridos e colocam o ciclista numa posição mais estendida do que um guidão tradicional de estrada (“drop down”).


Mesa Nitto Dynamic II - 90 graus
 
Alternativa muito popular entre fixeiros são os guidões de MTB com riser, e cortados curtos – ao redor de 46 a 50cmm, ao gosto do freguês. Eles são baratos e podem ser usados com mesa de speed ou de MTB; ou ainda de BMX. Nas bicicletarias de bairro existem uns guidões de alumínio com reforço interno e que tem “riser” que são ótimos para fixa.


Fixa F.Bello com Guidão Riser e Mesa 90 graus



Abaixo tem a foto de um guidão para fixa da Charge (UK) inspirado nos guidões de MTB, esse é o modelo Spit com comprimento de 48cm e inclinação (riser) de 50mm. 
Charge Spit Bar - 49cm e 50mm riser

Esses guidões com “riser” e acoplados a uma mesa com grau de inclinação superior a 72 graus, por exemplo, uma mesa para MTB, ou uma mesa para speed com 90 graus, que permitem que o ciclista tenha uma melhor visão do seu entorno, possa fazer uma direção defensiva e possa pedalar de pé mais confortavelmente nas subidas. O inconveniente é que eles têm basicamente uma única posição para as mãos, mas isso pode ser melhorado usando-se manoplas que tenham o “bar end” integrado.

Manopla c/ Bar End Integrado

Outra alternativa a considerar são os guidões denominados de “moustache bar”, ou aqueles mais tradicionais usados nas bikes inglesas de três marchas (guidão tipo North Road), alguns muito populares são feitos pela Nitto e tem uma cópia mais econômica da Origin. Eles oferecem muitas pegadas, ou seja, posicionamento das mãos, e quando o trajeto é longo permite descansar as mãos pela troca de posições. Além disso, eles dão uma boa posição para o ciclista visualizar o seu entorno e também para pedalar em pé. Infelizmente, são basicamente encontrados no exterior e às vezes no Mercado Livre.

Guidao Nitto tipo Moustache

Tipos de Guidões - Fixa e Outros Tipos de Bikes

Resumindo, existem muitas opções para equipar a sua bike fixa em termos de mesas e guidões e algumas não foram comentadas (por exemplo: guidão praiano etc.). Não existem regras, mas deve-se considerar seriamente o contexto onde se pedala, e o conforto ao pedalar.  Nada estraga mais o prazer de pedalar do que chegar em casa com os músculos doloridos devido a má posição.


Boas Pedaladas à Todos
 

By MarchaFixa

quarta-feira, 30 de março de 2011

A Conversão de uma MTB Peugeot em Fixa com Rodas 700c (Estrada)

A principal motivação para isso é que um quadro de MTB antigo oferece,: um movimento central mais alto que um quadro de pista ou speed, uma gancheira horizontal (as vezes) e também uma robustez inigualável em comparação com outras opções de conversão para fixa ou em relação a um quadro de pista original. Além disso, com rodas 700c oferece uma geometria que você só obtém se mandar fazer um quadro, mas a um custo altíssimo.

Essa Peugeot Tim Gould tem uma distancia do movimento central ao solo de 32,5cm, que é superior a de um quadro de pista, equipada com rodas 700c e com pneus 700x25. Ter um movimento central mais alto permite o ciclista enfrentar os obstáculos urbanos nessas trilhas que a prefeitura chama de ruas (lombadas, guias, buracos etc.) com mais tranqüilidade, com menos risco de levar um tombo. Sendo um quadro de MTB mais robusto que de uma speed, consequentemente o peso é maior, neste caso 2,5 Kgs.

O quadro quando comprei estava em estado lastimável como pode ser visto na foto abaixo.

Estado Dela Quando Comprada


Esse quadro tem gancheiras horizontais originais – o que é raridade; 99,99% dos quadros de MTB fabricados no exterior são com gancheiras verticais, o que dificulta o tensionamento da corrente, aspecto crucial em uma bike fixa.

Entretanto no mercado brasileiro existem muitas MTBs, mais simples mas com pedivela monobloco, que tem gancheiras horizontais. Por outro lado, pedivelas monobloco não são muito adequados para uma bike com pinhão fixo, dada a força imprimida numa fixa, ocorrem folgas, quebra de eixo etc. Existe uma alternativa barata para solucionar o problemas do pedivela/MC monobloco,que é inserir/soldar um tubo liso ("embuchar") dentro da caixa do movimento central atual, para que seja possivel colocar um movimento central salva-quadros. Esse processo está mais ou menos descrito no seguinte link: Como Montar uma Bike Fixa de Baixo Custo.

A melhor opção é encontrar uma MTB que use movimento central selado (tipo da Shimano). Existe também a opção de soldar na caixa do movimento central monobloco um tubo que tenha rosca no qual possa ser rosqueado um movimento central selado, vide última frase do paragrafo anterior.

A principal dificuldade ou desafio na transformação de uma MTB em fixa, ocorre em compatibilizar a linha da corrente com tamanho do eixo do movimento central e com o pedivela de modo que este não roce no “chainstay”.

Porque isso ocorre? A causa é que a largura entre os dois "chainstays" de um quadro de MTB é maior que de um quadro de speed, por conta que na MTB os pneus usados são mais largos. Além disso, a MTB utiliza pedivelas triplos cuja curvatura dos braços dos pedivelas é maior que o pedivela de speed. Na MTB o pedivela acompanha a curvatura do “chainstay”, assim ele não roça nele.

Uma das soluções para esse problema é utilizar um pedivela de MTB que tenha sido eliminado o suporte da terceira coroa (a menor das três), caso ele roce o “chainstay”.

Nesta Peugeot MTB, um pedivela que ficou ótimo foi um Dura Ace modelo FC-7410 que tem uma curvatura similar a um de MTB, pois ele usa um eixo de movimento central super-curto – 103mm (código do MC:BB-7410), ou seja, ele não roçava no “chainstay”. Na montagem final foi utilizado um pedivela Shimano Exage 300, do qual foram eliminados (torneados) os suportes para terceira coroa (a menor das três), mesmo assim o braço esquerdo do pedivela roçava o “chainstay”. O processo utilizado para eliminar o suporte da 3a. coroa no pedivela,  está descrito no seguinte post / link: Como Converter Pedivela Triplos de MTB em Pedivela para Bike Fixa .

Entretanto, os demais pedivelas testados, todos de speed, roçavam o “chainstay”, mesmo usando um movimento central Chin Haur com eixo curto de 107mm. Por outro lado, os movimento centrais de MTB tem 118mm ou 122mm ou são maiores ainda, o que os torna inviáveis pois a linha da corrente vai ficar péssima, pois a coroa iria ficar muito afastada do quadro;e se a linha da corrente não está adequada, a corrente pode pular e cair/desengrenar e isso pode causar um tombo feio e provavelmente danificar a bike . A solução foi prensar o “chainstay”, aonde a ponta do braço do pedivela batia no “chainstay”.

Chainstay Esquerdo Prensado (antes da pintura)
Detalhe Chainstay Prensado (bike pronta)
Altura do Mov. Central e Detalhe do Braço do Pedivela

Outro aspecto a considerar é o garfo a ser usado, no caso de se optar por rodas 700c. Existem as seguintes alternativas e suas implicações, a saber:

1)    garfo original de MTB: As rodas 700c cabem nele, mas é preciso utilizar um freio de speed com alcance longo do tipo Tektro R556, com alcance de 55mm à 73mm; e é melhor eliminar os suportes para V-Brake, pois são desnecessários. Ou ainda, reposicionar os suportes de V-Brake para aros 700c, mas isso implica em gastos com o “framebuilder”; ou utilizar um adaptador da MAVIC que reposiciona o V-Brake para brecar uma roda 700c (speed).

2)    garfo de speed: Rodas OK, freios OK; porém isso afeta a geometria da bike, dado que a distancia entre o eixo do cubo dianteiro até aonde vai a pista do garfo é menor do que um garfo de MTB; isso resulta em uma frente mais baixa e uma mudança do ângulo do tubo frontal e isso pode afetar o manejo (“handling”) da bicicleta. A solução consiste em extender o tubo frontal na parte debaixo dele uns 20mm de modo que isso compense o fato desse garfo ser menor que um de MTB.

3)    garfo de hibrida: Essa é a melhor solução, e que foi adotada, pois tem altura similar à um garfo de MTB, assim a geometria da bike não é alterada, e que já possuem suporte para freios V-Brake posicionados para roda 700c. E, pode-se utilizar pneus mais largos sem problemas tipo 700x32 ou 700x38. O único inconveniente é que são difíceis de achar no mercado local.


Optei por extender o tubo frontal (foi inserido uma peça feita por um torneiro com tubo sem costura, a qual foi soldada com solda MIG) de modo que o posicionamento para pedalar nas ruas congestionadas ficasse mais confortável e também em termos estéticos, de modo que usei poucos espaçadores  na caixa de direção. Ressalte-se que em geral, o tubo frontal de MTB é menor do que um de quadro de estrada. E que essa alteração efetuada no tubo frontal não é essencial.

O cubo traseiro utilizado foi  um cubo de disco dianteiro Shimano Deore (HB-M525), no qual foi trocado o eixo original de 100mm (frontal) por um eixo sólido traseiro com 174mm de comprimento e foram acrescentados 30 mm de espaçadores. O processo de re-espaçamento desse cubo está descrito no seguinte post / link: Como Converter Cubo de Disco em Cubo de Fixa.

Quanto aos demais aspectos, a bike não sofreu nenhuma transformação, exceto que foram eliminados todos os “braze ons” para conduites de cabo de freio traseiro, cabos para os cambios, e o suporte para parafusar o cambio traseiro.

Caso esse quadro tivesse uma gancheira vertical, seria necessário trocá-lo por uma de pista (horizontal) ou adotar outros procedimentos tais como: “magic gear” ou utilizar um cubo ecentrico Eno (da White Industries) que permite o tensionamento da corrente mesmo usando uma gancheira vertical. Porém os demais procedimentos descritos aplicam-se igualmente.

Neste paragrafo vamos sumarizar as peças essenciais, que são inerentes a uma bicicleta fixa e que foram utilizadas nessa conversão:

- O cubo de disco foi convertido em cubo fixo, o eixo original foi trocado por um de 174mm compativel com o espaço entre gancheiras de 130mm, e foram acrescentados 30mm de espaçadores. 

- O pinhão de cargueira (18 dentes) comum para encaixe foi furado e ele tem 1/8" de espessura e portanto requer corrente grossa.

- O movimento central Chin Haur tem eixo curto de 107mm, com rosca inglesa (1.37" x 24 TPI), para ter uma boa linha de corrente.

- O pedivela Shimano Exage 300 de MTB com 170mm (curto, é mais adequado para pedalar nas ruas)  e furação de 110mm BCD foi convertido para fixa, eliminando-se o suporte para terceira coroa. Foi utilizada uma coroa de aço daquelas que vinha em pedivelas triplo nos anos 80 e 90; e ela tem 48 dentes. A relação coroa x pinhão ficou em 2,66 (=48/18) que corresponde a um "gear ratio" de  71,0 , que é confortável para pedalar a beira-mar , onde o terreno é, geralmente, plano.

- A corrente utilizada é uma KMC High Value, grossa, ou seja com 1/8", que tem uma boa relação custo/beneficio.

- O firma-pé é um comum de plástico/resina com correias de nylon da Wellgo.

- As demais peças necessárias são componentes normais que habitualmente equipam bicicletas de speed/estrada e MTBs, e que é desnecessário comentar alguma caracteristica. O guidão riser de MTB foi cortado e ficou com comprimento de 50cm.


- A relação completa dos componentes utilizados na montagem estão neste post: Bike Check: Peugeot MTB FIXA da Nanda.

É importante enfatizar que todos os componentes utilizados na montagem dessa bike fixa, podem ser transferidos e montados em um quadro de Caloi 10 com um garfo de speed (aro 700c), ou em um outro quadro qualquer de speed que tenha gancheiras horizontais e MC com rosca inglesa (1.37" x 24 TPI), exceto o canote do selim, pois o diametro varia de quadro para quadro.  Além disso,  não será necessário prensar o "chainstay" como foi feito com a Peugeot, dado que a largura entre os "chainstays" da Caloi 10 ou de um quadro de speed é menor do que a da Peugeot MTB.

Resumindo, abordamos neste texto as principais dificuldades encontradas, em um caso real, na conversão de uma MTB em fixa para uso urbano. No outro post sobre o assunto são dados alguns outros detalhes, aqui: A Conversão de MTB de Aço / Cromoly em Fixa com Rodas 700c (speed).  e também na postagem: Como Montar uma Bike Fixa de Baixo Custo. 


Peugeot MTB Fixa com garfo de estrada - Rodas 700c (*)
Peugeot MTB Fixa PRONTA - com Garfo de Hibrida/ Touring


by MarchaFixa 

(*) Obs.: Nessa foto ela estava montada com um garfo de estrada, pois ainda não tinha chegado o garfo de hibrida.

A Conversão de MTB de Aço/ Cromoly em Fixa com Rodas 700c (speed)

Atualmente têm sido usados quadros de Caloi 10 e outros quadros de speed com gancheira horizontal nas conversões para quadro de fixa – fixed gear.

Porém os quadros de MTB feitas de aço carbono ou de cromoly oferecem enormes possibilidades para conversão em fixed gear para uso urbano. Os de alumínio, não são indicados, pois soldas enfraquecem o quadro, e, portanto seria necessário refazer o tratamento térmico do alumínio.

A principal razão é que uma MTB com rodas 700c resulta em uma distancia do centro do movimento central ao chão de 29 a 30cmmuito superior ao de uma bicicleta de pista, o permite enfrentar melhor os obstáculos das ruas causadores de tombos: lombadas, buracos, desníveis etc.

Um aro 700c tem um diâmetro de 622mm e um aro 26” de MTB tem 559mm, ou seja uma diferença de  63mm ou quase 2,5” polegadas .

Um quadro de MTB convertido para fixed gear com rodas 700c ou ainda com rodas de aro 27”, tem a mais em comparação a outros quadros de estrada/speedy convertidos para fixa / roda-fixa, o seguinte:

1)     A distancia do centro do movimento central ao chão (por ex: Peugeot Tim Gould MTB tem 30,5cm ou uma Bianchi Ocelot MTB que têm 29cm) é superior ao de uma bicicleta de pista – uma bicicleta Alien de pista (modelo em cromoly) (www.alienbikes.com) com pneus 700x25 tem uma distancia do chão de 28.5 cm. Uma Caloi Eddy Merckx com pneus (700 x 28) tem 27cm do chão.

2)     Não tem o ”overlap” do pedal com a roda dianteira, o que ocorre às vezes com quadros de estrada convertidos em fixa; ressaltando que em uma fixa você nunca deixa de pedalar, inclusive nas curvas.

3)     Existe espaço para usar pneus maiores/mais largos: tipo 700x32 ou 700x38.

4)  É mais robusta que um quadro de pista ou de speed, ou seja aguenta mais rodar nas trilhas que a prefeitura chama de ruas.

Além disso, é possível utilizar um pedivela de 172.5mm ou 175mm (dá + alavanca à pedalada) e mesmo assim não ocorre “overlap” do pedal com a roda – isso e’ muito importante quando se faz uma curva com uma bicicleta de pinhão fixo ou roda fixa, pois você entra e sai da curva pedalando, você nunca para de pedalar Usualmente em fixas de uso urbano recomenda-se pedivelas de 165mm de comprimento ou no máximo 170mm. 


Recentemente saiu esta pérola em uma rede social sobre a conversão de MTB em fixa com roda 700c:  “Eu nao converteria também aro 26 em 700... Eleva demais o movimento central e o centro de gravidade fica muito alto... Perde estabilidade...”  Isso não é verdade, pois as duas MTBs que converti com rodas 700c não perderam estabilidade.

 O autor do comentário acima esqueceu do contexto, o que muda muito a situação: a conversão de MTB em fixa com rodas 700c tem como objetivo re-aproveitar um quadro que esteja parado para fins de lazer ou deslocamento casa-trabalho ou casa-colégio etc. Ou seja, nada mais complicado do que isso.  Consequentemente a bike produto dessa conversão não será utilizada em competições no velódromo ou fazer downhill etc, mas simplesmente para curtir pedalar.

Vejamos os aspectos objetivos da conversão.  Uma bike com geometria de pista tem um movimento central mais alto que uma bike de estrada, ou seja um drop de 60mm versus um drop de 70mm (speed). No post : "A Escolha do Quadro daFixa: Geometria de Fixa vs. Pista vs. Estrada" mostramos uma tabela sobre a geometria das bikes produzidas pela Affinity cujo  "drop" do movimento central vai de 10mm até 70mm (speed). E em outro post: "Bike Check: Viking do Martens" mostramos a geometria da Look 496 (bike de pista top feita em carbono) cujo "drop" do movimento central é de 50mm. A Look 496 tem um dos movimentos centrais mais altos entre as bikes de pista, considerando que uma Panasonic NJS (bike keirin) tem 60mm. A minha bike fixa Bianchi Ocelot que é uma MTB com rodas 700c tem um "drop" de 50mm que é o mesmo da Look 496. E não tem instabilidade, assim como que a Look 496 também não tem.

Tensionando a Corrente nos Diversos Tipos de Quadros de MTB

As MTBs , as mais antigas, vinham com gancheira horizontal, o que facilita muito a conversão para fixa, pois não é necessário trocar a gancheira, dado que é possível tensionar a corrente sem maiores dificuldades.

Nos anos 90, as MTBs passaram a vir com gancheiras verticais; e nesse caso existem algumas maneiras de tensionar a corrente; a saber:

1)  magic gear + “half link”: Neste caso busca-se a relação coroa x pinhão que deixa naturalmente tensionada a corrente e as vêzes com a ajuda de um “half-link”; o inconveniente é que não é possível alterar essa relação; ela é perpétua. Existem softwares na web que calculam essa relação em função do comprimento do “chainstay”: http://eehouse.org/fixin/formfmu.php?maxRing=53&minRing=34&maxCog=20&minCog=13&stayLen=42&wheelDiam=26.16&isMetric=1&display=png&useHalfLink=&stretch=0&axleAdjust=vert&sortKey=Stay_length

2)  cubo ecentrico: O Eno Eccentric hub fabricado pela White Industries resolve esse problema de tensionamento da corrente, mas tem o inconveniente de ser caro, pois o custo total fica em US$ 200.00 a US$ 235.00, portanto só se justifica no caso de um super-quadro (carbono, scandium, titânio, Columbus Ultra Foco etc.). Ele tem o problema de mudar a posição do aro em relação às sapatas do freio e as vêzes as sapátas pegam no pneu, a solução é usar sómente freio dianteiro. Além disso, o Eno requer que voce monte uma nova roda.

3)  adaptador ecentrico para movimento central: Uma empresa canadense (http://www.forwardcycle.com/) desenvolveu uma adaptação que permite substituir os copos do movimento central Hollowtech II da Shimano por esses copos ecentricos e as esferas são fornecedas pela KLM que as vende como reposição das esferas do movimento central da Shimano. Entretanto o sistema tem três inconvenientes: 1) as opções de pedivela são mais restritas (basicamente os modelos de pedivela da Shimano que usam o Hallowtech II), pois no caso do cubo ecentrico voce pode usar o pedivela que quiser; 2) passar o sistema para uma outra bike é muito mais trabalhoso do que trocar de roda (cubo ecentrico); 3) o preço do sistema rivaliza com o do cubo ecentrico ( US$ 160.00 +frete); 4) dependendo da combinação coroa x pinhão, é necessário usar um "half-link" para a corrente ficar  bem tensionada. Além da Forward Cycle, existe o MC ecentrico fabricado pela empresa alemã  Trickstuff - denominado Exzentriker, maiores informaçoes aqui , e que custa E$ 160.00, e funciona de modo semelante ao Forward Cycles. 

Movimento Central Ecentrico da Trickstuff
Movimento Central Ecentrico Montado com Pedivela Shiamno p/ MC Hollowtech II

4)  trocar a gancheira: neste caso a gancheira vertical é substituída por uma de pista – horizontal. Ressalte-se que existem três tipos de encaixe dessas gancheiras. As gancheiras abaixo podem ser encontradas na Ceeway (Inglaterra).

a)  tradicional, que requer solda por brasagem:



b) encaixa nos tubos, e requer solda por brasagem:




c) Soldada nos tubos dos “stays” por fillet brasing ou por solda MIG ou TIG.



Esta feita pela Surly – empresa pioneira na fabricação de quadros fixed gear para uso urbano.

A principal vantagem é que ela pode ser soldada com solda MIG ou TIG sobre os restos de uma gancheira vertical que foi recortada para acomodá-la, e você tem muito mais flexibilidade em termos de ângulo para deixar a gancheira na posição apropriada.



Abaixo a KHS com as gancheiras da Surly soldadas com TIG sobre o que sobrou da gancheira antiga.



FREIOS para MTB FIXA com Roda 700c

As rodas 700c inviabilizam a utilização dos suportes existentes para V-Brakes, pois eles são para aros de 26 polegadas.

Habitualmente, nas fixas usa-se somente um freio, que é o dianteiro, neste caso existem algumas opções, mas você precisa checar o alcance do freio – distancia do centro do furo onde vai o freio no garfo até o meio da borda do aro onde pega a sapata do freio:

                1) freio Dia Compe Bulldog que é para BMX, mas tem pinças longas

                2) freio Tektro R556 com alcance entre 55-73mm;

                3) freio Tektro R536 com alcance entre 47-57mm;


Ressalte-se que os freios tradicionais de estrada – fabricados pela Shimano, Campagnolo ou Sram tem um alcance entre 39-49mm.

Outra solução é trocar o garfo de MTB e colocar um de hibrida ou touring que utilizam rodas 700c e também freios V-Brake.

Além disso, a Mavic faz uns adaptadores para V-Brake que move o freio mais para cima, de modo que ele alcance uma roda 700c, neste caso é possível manter o mesmo garfo de MTB.

Vejam este link:



Adaptador Mavic para Freio V-Brake - Aro 700c
Existe uma ferradura simples que é parafusada no suporte para cantilever / V-Brake junto com o freio cantilever ou V-Brake para evitar que os "stays" abram quando o freio é puxado, pois isso diminuir a frenagem do mesmo. Essa ferradura é muito parecida com o adaptador da Mavic, e para ficar igual basta parafusar suportes de cantilever na mesma posição que o da Mavic.

USANDO GARFO DE SPEED na MTB

Caso o ciclista deseje dar um ar de bike de speed e usar um garfo desse tipo de bike, deverá levar em conta o seguinte detalhe:

- a distancia entre o eixo do cubo dianteiro até onde é assentada a pista do garfo é maior no caso de um garfo de MTB do que em um garfo de speed. Consequentemente ocorre uma mudança na geometria da bike. Essa distancia em um garfo de speed fica entre 36.5cmm e 37.5cm; e no caso de um garfo de MTB ela fica entre 39.5cm-40.5cm; isso em termos gerais.

Para evitar que isso aconteça, faz-se necessário adicionar um prolongador de tubo frontal, na parte inferior, o qual pode ser feito por um torneiro com um tubo sem costura para ficar + resistente, e que pode ser soldado com MIG (+ baixa a temperatura); assim a distancia entre o topo do tubo frontal até ao eixo do cubo, ficará muito parecido com a anterior usando o garfo original.


MOVIMENTO CENTRAL (MC) para MTB CONVERTIDA em FIXA

As MTB antigas usavam MCs que eram iguais aos de speed, só que com eixo mais longo. Ou seja, a caixa aonde vai o MC tinha 68mm, igual a de speed; pois a distancia entre gancheiras era de 130mm, mas isso perdurou até às 7 velocidades.

Quando as MTB passaram para 8 velocidades, a distancia entre gancheiras pulou para 135mm e a caixa onde vai o MC também aumentou 5mm, passando de 68mm para 73mm.

As MTB sempre usaram eixos + longos que as bikes de speed, visto que elas usam pedivela triplo e os de speed são duplos. Convertida em fixa, a MTB passa a utilizar uma coroa e um pinhão, e para manter a linha da corrente faz-se necessário um eixo mais curto. A exceção é no caso do pinhão Dingle da Surly, para o qual é usado um pedivela com duas coroas, mas isso será tratado em outro tópico.

A maioria das MTBs usam MC com rosca inglesa (1.37” x 24 TPI), e para caixa com 73mm de comprimento, encontra-se com eixos de ponta quadrada mais curtos nas medidas de 107mm e 110mm.

 Nas demais MTB, com caixa de 68mm ( mesmo que speed) encontram-se eixos ponta quadrada com 102mm (campagnolo, Token), 103mm (shimano, Tange, Sugino, FSA, Token); 107mm (Shimano, Miche, Tange, Chin Haur, Stronglight etc.); 110mm (Shimano, Miche , Tange, Chin Haur etc) e 111mm (Campagnolo, Token etc).

O MC a ser usado é aquele que vai deixar o pedivela + próximo do quadro sem que a coroa /aste do pedivela roce o “chainstay” do quadro. Às vezes é necessário colocar espaçadores (ou arruelas inox de pressão que foi retirada a pressão) na coroa para ela ficar bem posicionada na linha da corrente do pinhão fixo.


PEDIVELA de MTB, de ESTRADA ou Pista na MTB CONVERTIDA em Fixa

Esse é um aspecto importante por dois fatores: 1) a distancia externa entre os “chainstays” da MTB é maior do que no quadro de speed, visto que a MTB usa pneus mais grossos; 2) consequentemente os pedivelas de MTB tem uma maior curvatura do braço do que os de speed / Pista para não atingirem/roçarem no “chainstay”.

Caso você queira usar um pedivela de speed em uma MTB convertida, talvez seja necessário prensar o “chainstay” para o pedivela não esbarrar no mesmo.

Vejam nessa foto o chainstay esquerdo foi prensado para que o pedivela de estrada não roce nele:

Chainstay Esquerdo foi Prensado para o Pedivela Não Bater



Pinhão Dingle, Pedivela Duplo e o Movimento Central

O pinhão Dingle tem 2 pinhões montados em uma única rosca, os quais são fabricados pela Surly; e eles são a quintessência da fixed gear de uso urbano.

Pinhão Surly Dingle


Minha experiência em montar uma roda com esse tipo de pinhão, implicou em usar um MC para pedivela duplo, pois o Dingle requer 2 coroas que tenham uma diferença de dentes similar ao Dingle. Suponhamos que o Dingle tenha 17 e 21 dentes, diferença entre eles de 4 dentes, então as coroas deverão ser 44 e 40 dentes, ou 48 e 44 dentes etc., assim o comprimento da corrente sempre fica igual. Entretanto, voce pode ter na frente uma diferença de 5 dentes (44x39) e atrás 4 dentes (17x21), mas para isso funcionar é necessário adicionar "half-link" à corrente, para que o eixo do cubo não fique muito para trás.

No caso da conversão de uma Bianchi Ocelot MTB, na qual foi utilizado um pedivela Campagnolo Chorus, com 2 coroas – 44 e 39 dentes; um MC  para caixa 68mm / rosca inglesa e com eixo de 111mm, foi necessário prensar uma parte pequena do chainstay direito (cerca de 15mm) para a COROA de 39 dentes não roçar o chainstay. Essa foi a melhor maneira, pois a alternativa seria colocar um eixo maior, mas isso comprometeria a linha da corrente.


Resumindo, procuramos abordar no artigo os principais aspectos que devem ser observados ao converter uma MTB em fixa com rodas 700c.


Existem outros posts no blog que estão relacionados com a montagem de uma fixa partindo de um quadro de MTB, como por exemplo: A Conversão de uma MTB Peugeot em Fixa com Rodas 700c (Estrada)”. O detalhamento completo das peças utilizadas na montagem dessa Peugeot está neste post:"Bike Check: Peugeot MTB FIXA da Nanda e também têm este outro post sobre a conversão de um quadro de MTB em fixa: "Bike Check: Bianchi Ocelot Fixa" .

 Apesar dos potenciais percalços, duas coisas motivam essa conversão: 1) o MC fica bem alto, o que minimiza as possibilidades do pedal bater no chão e ocorrer um acidente; 2) fica uma bike robusta apesar do peso.

Exemplificando,  uma MTB Bianchi Ocelot, o quadro pesa cerca de 3 kgs, mas ela montada como fixa e com rodas 700c ficou com um peso de 9,3 Kgs; para fins de comparação uma Caloi 10 com marchas e original pesa cerca de 15,7 Kgs, e uma MTB  top feita em carbono (suspensão dupla, freio a disco etc.) tem ao redor de 9,0 – 9,5 Kgs. 


Boas Pedaladas à Todos

by MarchaFixa