Nas minhas andanças pelas bicicletarias de São Paulo, naquelas antigas
nos bairros, de vez em quando encontros componentes interessantes.
Entre os achados, algumas caixas de direção com rosca na medida standard
(Inglesa/ISO) da Shimano que não mais são fabricadas; e uma caixa da Giorgia
(fabricada na Argentina) cópia da Campagnolo Super Record; um par de “capuzes” (“hoods”) da “Olimpico” fabricado em látex no Brasil que servem nos
antigos manetes de freio Campagnolo “Super Record”. Achei largado em uma bicicletaria de bairro,
na caixa (NOS), um movimento central Dura Ace modelo BB-7410 que ficou perfeito
com o pedivela de pista Dura Ace (NJS), pois tem um eixo de 103 mm. Neste caso
o dono da bicicletaria falou que não ia servir – foi honesto, pois estava
pensando que eu iria usar com pedivela duplo de estrada, mas este MC faz par
com o pedivela duplo Dura Ace FC-7410.
Em outra bicicletaria consegui um par de cubos para speed Campagnolo Record fabricados em 1967 com flange
alta que estavam largados e empoeirados, e montados com componentes que não
eram Campagnolo (espaçadores, contra-porca e as blocagens) e estava faltando
uma “cobertura (anel)” do “oil port”. Os
cubos foram polidos e troquei o eixo por um mais longo 130mm da Campagnolo; o
original era com 120mm, isto é para 5 velocidades. As esferas foram trocadas por esferas de
cromo com grade 25 – similares às originais
da Campagnolo; as quais foram adquiridas na SóEsferas. E demais peças (blocagens
e uma contra-porca) que não eram Campagnolo foram substituídas por originais da
época. O resultado está na foto abaixo.
|
Cubos Campagnolo Record Strada - 1967
|
|
Contra-Porca Campagnolo com Estampo - CAM 67
|
A caixa de direção Giorgia (da
Argentina) estava com um visual ruim, mas as pistas estavam em ótimo estado, e
a pista do garfo estava solta da sua base. Ela foi colada na base usando
trava-rosca de alta intensidade e os demais componentes foram polidos e ficaram
com uma ótima aparência e está instalada na fixa Bianchi Ocelot que ilustra a
página inicial deste blog, e está funcionando muito bem, sem folgas etc . Na foto
abaixo, é mostrado também que ela foi montada com um espaçador Campagnolo Super
Record.
|
Caixa de Direção Giorgia (Argentina)
|
Recentemente ganhei de um amigo ciclista um cubo antigo de pista
flip/flop fabricado na Italia em 1954 pela
FB – Fratelli Brivio com 36 furos, a
qual fabricou os cubos para a Campagnolo até 1958. A partir daí os cubos
Campagnolo passaram a ser produzidos internamente. A data do cubo foi determinada pelo estampo
nos cones /contra-porca que são da Campagnolo. O cubo estava com o “lockring” da
Campagnolo (rosca 1.32” X 24 TPI). Ressalte-se que o lockring da Campagnolo só
serve no cubo deles, obviamente, e nos de pista da Miche e da Phil Wood. E veio
junto um pinhão fixo com rosca inglesa (1.37” x 24 TPI) da marca Renak, descobri na internet que foi
fabricado na Alemanha.
|
Cubo flip/flop Fratelli Brivio - Data de Fabricação
|
|
Cubo flip/flop Fratelli Brivio - Antes da Restauração
|
|
Cubos Fratelli Brivio flip/flop - NOS (New Old Stock)
|
O cubo flip/flop estava com mau aspecto externo (vide fotos), mas é todo de aço – um bloco
inteiriço!!! Porém as roscas para pinhão e “lockring” estavam em excelente estado e os "dust caps" - "guarda-pós de aluminio estavam em excelente estado. Esse é capaz de
aguentar qualquer “ogro” dando skids.
Desmontei o cubo e vi que o eixo vasado para blocagem não tinha o
estampo da Campagnolo ou da FB. Cubos de pista originais utilizam eixos sólidos
com porcas. Entretanto os demais componentes: cones e contra-porcas tinham a
data e o estampo da Campagnolo e estavam em ótimo estado assim como as bacias
do cubo.
|
Fratelli Brivio - Estado da Bacia
|
Antes de prosseguir com a restauração fiz uma pesquisa na internet sobre
esse tipo de cubo e descobri uma raridade. Um similar a este, mas em melhor
estado, estava sendo vendido por aproximadamente US$ 180 com frete no eBay
(Suiça), mas ainda sem imposto de importação (60%), conforme este link AQUI.
Um aspecto que atrapalha muito a restauração de cubos antigos é que muitas vêzes estão faltando os "dust caps" - guarda-pós. Observando o cubo da Fratelli Brivio vi que é possivel fazer "dust caps" a partir de uma chapa de aluminio de 2mm. A qual é torneada para encaixar sobre pressão como tampa das bacias. Alguns vão dizer que os "dust caps" tem formato abaulado, e isso é verdade, mas os feitos como uma chapa vão funcionar tão bem quanto aos abaulados - a função deles é não permitir a entrada de detritos das ruas que poderão danificar as esferas e a bacia.
|
"Dust Cap" Envolvendo o Cone do Cubo
|
|
"Dust CAP" - Guarda-Pó Campagnolo |
Mandei fazer a re-cromeação da carcaça do cubo e ficou muito bom, exceto
que houve uma pequena contaminação das roscas, e rosquear o pinhão e a
roda-livre ficou mais difícil. Existe uma solução que é usar pinhões da Miche
com “carrier” – depois do “carrier” instalado/rosqueado no cubo você nunca mais
precisa tirá-lo, pois nesse sistema o pinhão fixo é encaixado no “carrier”. O
”carrier” tem rosca inglesa (1.37” X 24 TPI) que é a mesma dos cubos Dura Ace,
Formula, Miche, Campagnolo etc. O
resultado da restauração está na foto abaixo.
|
Cubo Flip/flop Fratelli Brivio Restaurado
|
Coloquei um eixo sólido da Campagnolo que tem rosca 10 mm X 26 TPI com
as respectivas porcas. Para fins informativos, um eixo sólido de cubo de pista
Dura Ace tem uma rosca de 10 mm x 1 FRPM (fio de rosca por milímetro). Para
fazer par com este Fratelli Brivio, consegui um cubo de estrada dianteiro antigo
da Campagnolo que será trocado o eixo (rosca 9 mm X 26 TPI) por um sólido
original com as respectivas porcas.
Agora tenho um bom problema que é arranjar um quadro italiano para ficar
coerente com o nível do cubo, assim como os aros. Esse cubo ficará bom com um
aro similar aos tubulares de antanho, tipo “box” e polido. Uma alternativa é um
Mavic MA3, Ambrosio, Nisi ou FIR – que não são mais fabricados, mas pode-se encontrar no eBay. As alternativas
facilmente disponíveis são um Velocity Razor, Mavic Open Pro ou o Open Sport; ou
ainda um H+Son TB14, que ainda estão em fabricação e são de boa qualidade.
|
Aro H+Son TB14
|
|
Perfil do Aro H+Son TB14
|
O peso do cubo de pista FB
traseiro que tem flange baixa é de 422 gramas, que inclui o “lockrinbg” e
as duas porcas. Alguns vão achar que
isso é extremamente pesado, obviamente não é para competição, mas é ótimo para
andar nas ruas e dar skids, pois é super-robusto. Entretanto é possível fazer a comparação de
pêso com outro componente de bike fixa que era fabricado na época deste cubo FB e continua sendo até hoje e que
não prima pela leveza e sim pelo conforto: Selim Brooks B17.
|
Cubo FB - Pêso
|
Esse modelo de selim da Brooks
pesa cerca de 530 gramas segundo
informação obtida neste link AQUI
. Por outro lado, o peso de selins mais modernos e clássicos (que também são
populares entre os fixeiros) tais como: Selle San Marco Concor (298 gramas);
Regal (369 gramas), Rolls (382 gramas). Ou seja, a diferença de peso é de 230
gramas entre o Concor e o B17 e nos outros é menor.
Um cubo de pista moderno com flange
baixa tipo Campagnolo Record Pista
pesa 284 gramas incluindo o lockring e as porcas; e um Dura Ace Track HB-7710 (flange
baixa) tem um peso de 313 gramas incluindo o lockring /porcas. Ou seja, a
diferença de peso com relação ao cubo de aço FB é respectivamente de 138 gramas e
109 gramas.
Conclusão: O adicional de peso de um cubo de fixa FB de aço é menor que
aquele trazido pelo uso de um selim Brooks B-17.
Na restauração muitas vezes é necessário canibalizar uma outra peça similar que tenha problemas graves, mas que tem partes em ótimo estado. Vide as fotos a seguir.
|
Cubo Campagnolo Record c/ Carcaça Danificada
|
|
Cubo Campagnolo Record SEM "Dust Caps"
|
|
Cubo Campagnolo Record sem Pista de Esferas
|
|
Partes Re-Aproveitáveis: 2 Pistas, 2 Dust Caps e Anel do "oil port"
|
Na primeira foto é mostrado o estado do cubo, na segunda apresentamos uma ferramenta improvisada (2 parafusos sextavados que unidos engancham nas bordas) para retirar os "dust caps" do cubo sem danifica-los. Na terceira foto é mostrado o que foi utilizado para extrair do cubo a pista de esferas: maçarico culinário; ferramenta improvisada para empurrar para fora as pistas do cubo; um eixo dianteiro que pressiona a ferramenta improvisada de extração e não estão nas fotos o martelo e um alicate de pressão para segurar o cubo. A carcaça do cubo é aquecida com o maçarico e ela dilatando-se facilita empurrar para fora a pista do cubo - a qual foi instalada sob pressão. Na última foto estão os componentes que podem ser re-aproveitados, tudo menos a carcaça que tem 28 furos - difícil de achar aros e a estética externa do cubo está bem prejudicada (vide 2a. foto acima).
Cubos traseiros são mais fáceis de restaurar, pois existe quase que um “padrão”
em termos de diâmetro de esferas – usam ¼” de polegada. Entretanto, existe um
outro potencial problema que é o diâmetro interno do “dust cup” que é onde
entra o cone. Se for muito largo, fica uma fresta por onde entram detritos que
atacam a bacia, o cone e as esferas. Diferença no diâmetro dos “dust cup”
ocorrem inclusive entre o mesmo modelo de um mesmo fabricante. Vi isso ocorrer
com dois cubos traseiros C-Record da Campagnolo, eles tinham “dust cups” com diâmetro
interno diferente e consequentemente o diâmetro externo dos cones eram diferentes !!!
Por isso, é sempre melhor utilizar a peça original.
Lembre-se do seguinte: restauração só vale a pena se for de peças de
alta qualidade ou estilosas; ou em casos especiais: você herdou/ganhou uma bike legal antiga
de seu avô ou parente e por razões subjetivas você quer deixa-la como ela era
no passado, independentemente do custo e tempo envolvido.
Bom Garimpo e Boas Pedaladas a Todos
by MarchaFixa