Montar uma
singlespeed de baixo custo é mais simples e mais barato que montar uma bike
fixa básica. Isso se deve ao fato que são muito poucos os componentes de
singlespeed que precisam ser comprados.
Enfatizo que
esta conversão sugerida neste artigo é para uma bike de uso urbano normal (por
ex.: deslocamento, lazer, condicionamento físico etc.). Para outros casos, tais como: freeride, street jump,
manobras radicais etc. você deverá buscar na web instruções específicas sobre
como proceder, pois fogem do escopo do blog.
Lembrando que no
Brasil a grande maioria das bicicletas são singlespeed, pois existem milhões de
Barras Forte (Caloi) e Barras Circular (Monark) rodando Brasil afora. Elas
aliam robustez (e peso) com preço baixo.
Ressalte-se que
qualquer bike pode ser convertida em uma singlespeed, pois nos casos de
gancheira vertical basta colocar um esticador de corrente ou um cambio traseiro
para tensioná-la. Entretanto aqueles que preferem uma bike com uma estética mais
limpa (“clean”) precisam usar um quadro com gancheira horizontal. Caso
contrario, será necessário utilizar um esticador de corrente ou fazer um “magic
gear”. Isso é discutido no post: Bike
Fixa com Quadro de Gancheira Vertical: Quatro Opções para Tensionar a Corrente
, apesar do titulo, também se aplica às bikes singlespeed.
Bike Singlespeed |
A maneira mais
simples e barata para montar uma singlespeed é partir de uma bike pronta, já
montada. Entretanto
isso não impede de você montar uma do zero e esse processo é discutido no post: “Como Montar Uma Bicicleta Fixa do
Zero” , que serve
como guia, mas no caso de singlespeed,
existem as seguintes diferenças – que tornam mais barato e menos complicado
o processo de montagem: as alternativas de cubos são maiores (vide tópico
abaixo) e mais baratas; não é necessário usar firma-pé ou pedal clipless; pode
ser usado um pedivela de ponta quadrada comum (170mm , 172.5mm ou 175mm) que ficará
bom; usa-se uma corrente fina ou grossa
que seja compatível com a coroa e a catraca. Outro aspecto é que não é necessário trocar o eixo vasado para blocagem por um sólido, dá para usar sem problemas a blocagem.
A seguir vamos
comentar sobre os diversos tipos de cubos
traseiros que são utilizados nas
bikes tendo em vista o seu uso /conversão para singlespeed. Abaixo na tabela
está um resumo das possibilidades.
1)
Cubo de Rosca: A grande maioria das bikes com marcha de preço médio atualmente
usa uma catraca de sete (7) velocidades, mas as recomendações valem para
qualquer cubo com catraca, seja de 3, 4, 5 ou 6 velocidades. Existe também a
alternativa de comprar um cubo de rosca e montar uma roda barata com um cubo
Shun-Feng de aço – como foi descrito no post: “Será Que Vou Gostar de Pedalar uma Fixa ???
Faça um Teste” , porém com uma enorme diferença, pois será usada uma
roda-livre de uma velocidade em vez do pinhão
fixo soldado. Ressalte-se que a Shun-Feng fabrica também um cubo de rosca
feito em alumínio e com rolamentos e eles são baratos – cerca de R$ 40,00 (o
par).
Neste caso existem DUAS opções:
Esquema do Re-Espaçamento do Cubo Traseiro |
B) Deixar o cubo
traseiro como está. Neste caso basta reposicionar a corrente em um dos
pinhões da catraca (roda-livre) que proporcione uma boa linha de corrente.
Ressalte-se que o inconveniente dessa alternativa é que não poderemos ajustar a
relação coroa x pinhão/engrenagem, pelo lado do pinhão.
Essa solução é muito utilizada por ciclistas no interior e nos bairros que
compraram bicicletas de marchas mais simples, em geral MTBs, e que ocorreu uma
quebra ou falha no funcionamento do trocador de marcha ou o cambio quebrou ou
foi muito danificado e o dono preferiu não gastar dinheiro com a manutenção,
então a solução singlespeed prevaleceu.
Cubo Campagnolo Record p/ Roda-Livre |
2)
Cubo K-7 (freehub): Esse é o atual padrão das bikes mais elaboradas –
sejam elas de speed, MTB ou hibridas. Nesta situação a melhor alternativa é
adicionar espaçadores de alumínio ou re-aproveitar espaçadores dos cassetes
descartados para ocupar o espaço dos pinhões que foram eliminados. Já existem Kits
de espaçadores para singlespeed à venda, a maioria para Shimano ou SRAM, pois
no caso de cubo da Campagnolo será necessário limar algumas ranhuras de encaixe,
porém a Wheels Manafacturing oferece um kit pronto para Campagnolo. O pinhão
remanescente será posicionado de modo que a linha da corrente fique perfeita.
Alguém pode pensar: Por que não deixar como está o K-7, como foi sugerido para
os cubos de rosca? Na catraca para marchas (5, 6 ou 7 velocidades) você não
consegue eliminar as engrenagens desnecessárias, mas no K-7 isso é possível. Mantendo o K-7 dá para manter também o movimento central e o pedivela.
Cubo Campagnolo Record 9V - Singlespeed |
3)
Cubo Flip/Flop:
Esse é também uma
opção, porém foge um pouco do nosso objetivo que é manter os custos baixos. O cubo flip/flop é um cubo para bike fixa que
permite colocar de um lado um pinhão fixo e do outro uma roda-livre (catraca)
de uma velocidade. Os mais baratos são os Shun-Feng traseiro que custam cerca
de R$ 49,00. Por outro lado, os cubos flip/flop (o par: diant.+ trás.) da
Fórmula chegam a custar até R$ 250,00 .
Cubo de Fixa Flip / Flop ( Roda-Livre e Pinhão Fixo) |
4)
Cubo Contra-Pedal: Esse cubo é especifico para singlespeed e ele tem
freio contra-pedal. É amplamente utilizado, seja em bikes cargueiras como bikes
para lazer. O inconveniente é o peso deles, mas por outro lado você economiza o
peso das pinças de freio e dos manetes de freio.
Eles são fabricados
pela Shimano, SRAM, Velosteel (Tcheca) Sturmey Archer etc. No exterior são
conhecidos como “coaster brake hub”. O modelo Shimano CB-E110 equipa a Dahon modelo
Mu Uno e o modelo Eco One.
O modelo da
Shimano CB-E110 custa ao redor de R$ 65,00 e o da Velosteel R$ 55,00 (pesquisa
na web). Ressalte-se que com a alta do dólar os preços são mais altos (Out/2015).
Cubo Contra-Pedal Shimano CB-E110 |
Além do cubo
traseiro, existem outros componentes que
precisam ser adequados para uma singlespeed: pedivela/coroa, o movimento central e a corrente etc.
Nos casos do cubo ter sido re-espaçado ou ter sido
trocado por um cubo flip/flop ou de
contra-pedal será necessário adequar a posição do pedivela/coroa de modo a
resultar em uma boa linha de corrente. Existem duas alternativas para
ajustar isso: 1) Colocar a única coroa no lado interno do
pedivela e às vezes colocar espaçadores nos parafusos da coroa para aproximá-la
mais do quadro; 2) Trocar o movimento central por um com eixo mais
curto, assim o pedivela/coroa ficam mais próximos do quadro o que resulta
em uma melhor linha da corrente. Isso fatalmente vai ocorrer no caso de MTBs cujo cubo K-7 foi trocado por um flip/flop ou
cubo de rosca , que possuem uma linha da corrente ao redor de 42-45mm (exceto
se você utilizar um cubo singlespeed especifico para MTB – que possuem uma
linha da corrente de 52mm, como o cubo da Paul Components etc.), e dado que MTBs
utilizam pedivela triplo consequentemente usam um movimento central com 118mm a
127mm (Obs.: Isso é muito comum na Shimano) – com isso o pedivela/coroa ficará
distante do quadro, por outro lado um movimento central com eixo curto poderá
fazer com que o pedivela/coroa rocem no “chainstay” do quadro.
No caso da MTB, a melhor relação Custo X Diversão é usar o K-7 para
fazer uma singlespeed - basta uma engrenagem e mais espaçadores, pois tem mais possibilidades de posicionar corretamente
a engrenagem (pinhão) para ter uma boa linha da corrente e não será necessário
trocar o movimento central e o pedivela. Uma bike speed / MTB com pedivela triplo poderá
utilizar movimentos centrais com eixo de 115 mm até 127 mm, a exceção são os
pedivelas triplos Campagnolo Record e Chorus que usam movimento central com
111mm, enquanto que uma singlespeed ou fixa utiliza entre 102mm e 111mm quando usa cubo flip/flop ou cubo de rosca re-espaçado.
É importante
observar que os pedivelas que não
usam movimento central com ponta
quadrada são mais difíceis de manipular a distancia dele em relação ao
quadro. Pedivelas que utilizam movimento
central com ponta quadrada são mais versáteis para obter uma boa linha de
corrente. Entretanto usando um cubo K-7, essa falta de flexibilidade dos
pedivelas modernos (Ultra-Torque, Octalink II etc.) com eixo integrado pode ser
amenizada.
No caso de pedivela
de speed, é melhor eliminar a coroa maior, (que em geral tem 53 ou 52 dentes),
para evitar a relação ficar muito pesada, exceto nos casos em que o ciclista planeje
colocar uma catraca com 20 a 22 dentes.
Como as bikes speed/MTB
ou hibridas usam correntes finas 3/32” é melhor comprar uma catraca com dentes finos
(3/32’), assim pode-se re-aproveitar a corrente para marchas (fina).
Serão retirados da bike os seguintes componentes
desnecessários: alavancas de
câmbio (no quadro ou na mesa/avanço); os câmbios traseiro e dianteiro. Caso
você use STI ou Ergopower poderá substitui-los por manetes de freio
tradicionais. No caso de MTBs que utilizam manetes Rapid Fire e similares que
vem com o trocador e o manete de freio integrados, é melhor substituir por
manetes de freio para BMX, ou aqueles manetes para cantilever ou V-Brake
antigos. ATENÇAO: Caso voce opte por um cubo de contra-pedal, então ferraduras de freios e seus manetes serão desnecessários.
O Que Voce Poderá Precisar Comprar
Nota: Além de comprar um cubo de single speed (rosca ou contra-pedal) se necessário, você poderá necessitar comprar os itens abaixo, mas isso depende da configuração escolhida.
Nota: Além de comprar um cubo de single speed (rosca ou contra-pedal) se necessário, você poderá necessitar comprar os itens abaixo, mas isso depende da configuração escolhida.
1)
Esticador de Corrente. Isso no caso
do quadro ter gancheira vertical. Existem
vários tipos de modelos de esticadores de corrente. Entretanto, você pode fazer
um esticador à partir de um cambio traseiro antigo. A transformação do cambio
traseiro em esticador de corrente é bem simples – use um cabo usado, pois você
vai precisar de uns 25cm de cabo: 1)
Passe um cabo de câmbio na regulagem de tensão do câmbio (“cable adjustment
barrel”) – vide foto e travá-lo (a ”cabeça” do cabo prende na entrada); 2) Passe o resto do cabo no parafuso
(“cable anchor bolt”) que prende o cabo no câmbio e manualmente puxe o
cabo de modo que o braço do cambio
traseiro fique exatamente debaixo da engrenagem/pinhão; 3) Aperte o parafuso que prende o cabo (“cable anchor bolt”) com
isso o braço fica posicionado no lugar desejado ; 4) Corte o excesso de cabo.
Nomenclatura das Partes do Câmbio Traseiro |
Tensionador / Esticador de Corrente |
2)
Half-Link. No caso de você optar por fazer um “magic gear” para
tensionar a corrente em um quadro com gancheira vertical – deixar o visual da
bike mais “clean” - limpo, um “half-link” (meio-elo) faz o ajuste fino, mas só tem no
exterior nas medidas 3/32 (fina) e 1/8 (grossa). No caso da corrente grossa –
você pode fazer um a partir de um pedaço de corrente de meio-elo que são encontradas
no Brasil. Não use correntes de meio-elo, pois são caras e “laceiam”
rapidamente.
Half-Link Avulso |
3)
Movimento Central. No caso de você estar convertendo uma bicicleta que
tenha pedivela triplo, talvez seja necessário trocar o movimento central no
caso do cubo traseiro de rosca ter sido re-espaçado para ter uma boa linha de
corrente – no post: “Como
Medir a Linha da Corrente da sua Bike Fixa” esse assunto é
abordado em detalhes. É importante enfatizar que ter uma boa linha da corrente
traz os seguintes benefícios: 1)
menor desgaste da transmissão (coroa, roda-livre e corrente); 2) fica mais silencioso; 3) diminui as possibilidades de queda
da corrente – o que pode provocar um acidente.
Ressaltando que em geral uma bike com pedivela triplo usa movimento
central com eixos entre 115mm e 127mm; enquanto que numa singlespeed ou fixa os
eixos ficam entre 102mm e 111mm – dependendo do modelo de pedivela e do
movimento central de ponta quadrada que podem ser no padrão ISO ou JIS.
Pedivelas para movimento central com ponta quadrada são melhores para
singlespeed/fixa, pois tem mais opções de tamanho do eixo do movimento central.
4)
Kit de Espaçadores. Isso no caso de cubos K-7 que estão sendo convertidos
para singlespeed. A maioria dos kits é para os cubos K-7 da Shimano, que também
servem nos SRAM. Eles podem ser adaptados para cubos K-7 da Campagnolo, basta
eliminar algumas “guias” em alto relevo. A Wheels Manufacturing vende um kit de
espaçadores e pinhão desenhado para os cubos da Campagnolo. Os espaçadores
podem ser aqueles descartados de cassetes antigos ou podem ser feitos por um
torneiro em alumínio; ou utilizar “luvas” em PVC de tubulação hidráulica – isso
foi objeto da DICA 2 no post: “Bike Fixa: Dicas, Macetes e Gambitechs”.
Cubo K-7 Campagnolo com Espaçadores de Aluminio |
5)
Catraca / Roda-Livre Uma Velocidade. Essa compra será necessária, caso você tenha
re-espaçado o cubo de rosca para acomodar uma catraca simples. A relação coroa
x catraca deve ser escolhida em função
dos seguintes fatores: condicionamento
físico do ciclista; topografia da região / caminho aonde pretende pedalar; uso
da bike (meio de transporte, lazer) etc. Por exemplo, uma relação
48 X 18 ou 50 X 18 é bem tranquila para pedalar em regiões planas a
beira mar ou nas proximidades das margens de rios.
Roda-Livre ENO (White Industries) em INOX ( É a Top) |
Uma dica: Antes de fazer a conversão para singlespeed da sua
bike de marchas, faça um teste / experimente andar na região que você pretende
usar a sua singlespeed com uma única marcha – isto é: por exemplo – 46 X 17 ; e
em outro dia 46 X 15; ou ainda no caso de speed 53 x 20 e assim por diante até
achar uma relação que você se sinta confortável. Esse experimento pode ser feito com qualquer
cubo para marchas e com isso você descobre a relação (coroa X roda-livre) mais
adequada para você.
Lembrando que uma catraca de uma velocidade é muito mais barata que uma
coroa do pedivela, uma DICTA ou ACS custam ao redor de R$ 25,00 e as Xing-Ling
cerca de R$ 7,00. Compre uma catraca para corrente fina (6, 7 ou 8
velocidades), assim você pode reaproveitar a sua corrente para marchas.
6)
Manetes de Freio. Caso você tenha manetes STIs ou Ergopower na sua bike de speed ou
manetes Rapid Fire integrados na sua MTB ou híbrida, será necessário substituí-los
por manetes de freio compatíveis com as pinças de freio e com o tipo de guidão
usado.
7)
Parafusos da Coroa. A eliminação de uma das coroas pode requerer a troca
dos parafusos da coroa por uns para coroa simples. A alternativa é comprar
arruelas de pressão de 10 mm de diâmetro interno (vide Dica 1 neste post AQUI) ou espaçadores de alumínio (só
no exterior) para ocuparem o espaço da coroa eliminada.
Em termos de serviços da bicicletaria, no caso de troca do cubo - será necessário fazer a montagem
da nova roda e serão necessários raios novos, ou re-alinhar ela no caso de re-espaçamento do cubo de rosca. E,
talvez a troca do movimento central por um com eixo mais curto.
Os demais componentes de uma bike singlespeed são os mesmos utilizados em bikes de speed, BMX, hibridas ou MTB, e ficam a critério / gosto do ciclista.
Neste link AQUI tem um artigo sobre o assunto escrito por Keith Bontrager (veja a história dele aqui) cujo titulo é: “Build a "Single Speed" from the Reject Pile (or real cheap anyway)”. Ele está em inglês e infelizmente esse artigo foi retirado do site da Bontrager, mas eu tinha feito uma cópia.
Boas Pedaladas à
Todos
By
MarchaFixa